Todos os dias olho pela janela, desejando estar aí fora… contigo. Desejando poder sentir as gotas de água caírem-me na cara e com elas, lavar todo o meu ser: diluir as minhas mágoas… as minhas tristezas… as minhas desilusões.
Fecho os olhos. Estou aí contigo.
Sinto-te! Sinto que não estou sozinho. Sinto que estou acompanhado…
Não me importando com o facto de me poder molhar, afinal de contas, estou com um amigo, sento-me no chão, abraçando o meu amigo recém-chegado… Aquele que aparece só de vez em quando e que com ele me dá a melhor alegria… a alegria de não me julgar.
Encosto a cabeça ao muro de pedra, de olhos fechados, pensando… pensando no que não quero pensar. Pensando no que quero pensar. Pensando no que não deveria pensar… Pensando em como te queria aqui sempre…
Agora abro os olhos, mas as minhas lágrimas já se misturaram com as tuas, porque…, raios… É isso, não é? Os amigos partilham lágrimas… eles não estão só lá para as ajudar a limpar, mas sim para as perceber… e com isso para nos sossegar e nos aclamar…
Os meus olhos agora estão vermelhos, a minha cabeça lateja, e só quero que o meu corpo caia, inerte, frio, tendo com ele, graças a ti, congelando tudo aquilo em que não devo pensar. Tendo congelado cada célula…, cada músculo…, cada osso.
As minhas lágrimas são agora as nossas lágrimas… A minha tristeza é agora a tua tristeza.
Mas depois surpreendes-me novamente: não me abandonas… não, isso nunca pensaria de ti!, mas intensificas a tua força… E as lágrimas que outrora se confundiam com as minhas escasseiam, e dás lugar às tuas lágrimas… aquelas que me limpam… que me saram… que me trazem de volta à vida.
És tu que me trazes à vida… és tu que me levantas quando eu já não consigo… és tu que me levantas quando já o meu muro de pedra se transforma em míseros grãos de areia.
Obrigado por me ajudares a solidificar novamente o meu muro… o meu pilar… o meu mundo… o meu ser…
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