Hoje recebi um telefonema de uma amiga de Mestrado, e qual a minha surpresa, em perceber que estamos praticamente todos a passar pelo mesmo. Quer seja eu, ela, ou outros colegas que se apercebem cada vez mais da tonelada de trabalhos que temos pela frente. Aí, ela perguntou-se a si própria “Quem sou eu?”. Uma pergunta tão simples, mas de resposta tão complexa, que poderíamos ter ficado a filosofar o dia todo, não houvesse vida para viver fora dessa chamada telefónica.
Mas, realmente, quem sou eu? É normal sentir-me tão ciente de mim, como perdido? Como que olhando para a vista que tenho diante de mim, sem saber se vou pela esquerda, ou pela direita?
Ao longo da minha vida, confesso que fui aprendendo a fazer as coisas sozinho. A sofrer sozinho. A minha paixão era, e é a escrita, pelo que foram muitas as vezes que troquei coisas mais próprias à minha idade naquela altura, a passar horas em frente a um computador, a imaginar, fantasiar. E com isso, crescer, aprender, meter no lugar do outro. Criar, destruir. Amar, matar! Isso sem dúvida moldou-me, e levou-me a onde estou hoje. À pessoa que sou hoje. Até a atenção que dava às pessoas, que a preferia ao invés de outras coisas que poderiam ser feitas noutra altura. Ou seja, fui aprendendo a priorizar as coisas. A saber o que era o certo naquela altura. Ou melhor, o que eu achava que era o correto para o outro. Com isto, fui igualmente esquecendo o correto para mim. O que eu sentia. Queria!
Não sou uma pessoa voltada para a religião, mas ignorar os valores que os portugueses e, com isso, a minha família têm impregnados em si, seria errado. Assim, foi com alguma emoção, que li as palavras deste Papa visionário, as quais não consigo ficar indiferente:
“Podes ter defeitos, estar ansioso e viver irritado algumas vezes, mas não te esqueças que a tua vida é a maior empresa do mundo. Só tu podes evitar que ela entre em decadência. Há muitos que te apreciam, admiram e te querem.
Gostaria que recordasses que ser feliz, não é ter um céu sem tempestades, caminho sem acidentes, trabalhos sem fadiga, relacionamentos sem deceções. Ser feliz é encontrar força no perdão, esperança nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos desencontros. Ser feliz não é apenas valorizar o sorriso, mas também refletir sobre a tristeza. Não é apenas comemorar o sucesso, mas aprender lições nos fracassos. Não é apenas ter alegria com os aplausos, mas ter alegria no anonimato. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver a vida, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz não é uma fatalidade do destino, mas uma conquista de quem sabe viajar para dentro do seu próprio ser. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e tornar-se ator da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no longínquo da nossa alma. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um “não”. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que seja injusta. É ter maturidade para dizer ‘enganei-me’. É ter a ousadia para dizer ‘perdoa-me’. Que a tua vida se torne um jardim de oportunidades para ser feliz… E que quando te enganares no caminho, comeces tudo de novo. Assim podes facilmente perceber novamente que ser feliz não é ter uma vida perfeita. Nunca desistas”
Papa Francisco
Acho que nunca li tanta verdade junta, sou sincero. Mas hoje, sentindo-me perdido neste vasto mundo, não posso deixar de refletir nessas mesmas palavras. E nos factos inerentes a mim e que dos quais não conseguia prescindir, como o facto de ter uma família, amigos e colegas que amo, e por isso mesmo, ter a certeza de que se me enganar em algum momento, a presença deles, está lá. De que se quiser chorar, se quiser ser abraçado, isso irá lá estar, a aconchegar uma alma que desespera por qualquer motivo mais válido ou menos válido, estúpido ou cheio de certeza.
Já tive muitos fracassos, mas lembro-me bem mais dos poucos sucessos que me fizeram crescer e deram oportunidades para conseguir estar a escrever isto mesmo que aqui estou hoje. Sem medo do que sinto. Sem medo que me digam que estou a exagerar, de que não estou sozinho, de que é a vida.
Por isso, neste texto que funciona mais como auto-reflexão, acho que te estou a tentar dizer que, se tens medo, faz-te amigo dele. Se amas as pessoas, faz com que elas o saibam. Se estás vivo, VIVE! Nada faz mais sentido. Nada justifica ficarmos perdidos em pensamentos sem fim dentro de nós. Perdoa os outros, para permitires que tu, também te perdoes a ti próprio. Porque, no final de um dia, todos estamos com o pensamento no mesmo. Todos estamos a querer fazer o melhor que conseguirmos. Mas por favor, e agora quero dizer-me a mim mesmo: não te esqueças que falhar, faz parte desse melhor, e se falhar, fica feliz, porque tentaste. Chegará o dia, que farás melhor…
Originalmente publicado a 10 de janeiro em https://rapazdeoculos.blogs.sapo.pt/
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