Já sabem a minha paixão pelo filme Mamma Mia!, que vos demonstrei na publicação da semana passada. Hoje, depois da estreia do filme que se deu ontem, faço a minha reflexão do filme.
Muito provavelmente, se não gostam de musicais ou particularmente do Mamma Mia!, até pela grande cobertura nacional que o filme desperta – visto ter sido dos filmes mais vistos em Portugal-, peço-vos desde já desculpa. Mas a coisa desta publicação, é que vou dar alguns spoilers! É verdade! Vou contrariar-me um bocadinho e dar-vos isso. Mas porquê? Porque foram diversas as vezes que as músicas e interpretação, que decorria do filme das letras dos ABBA, me inspiraram. Me levaram por diferentes trilhos nas histórias que vos escrevo. Por isso, se não viram o filme, não avancem!
Os trailers já faziam antever. A própria banda sonora, também.
A personagem da incontornável Meryl Streep morreu há um ano (pelo tempo do filme). Já esperava, é certo. E acabei agora mesmo de ler um artigo (em inglês), que explica a razão dos argumentistas terem tomado essa decisão. Mas sou sincero. Acho que para esta história e atendendo ao que já sabíamos do primeiro filme, se esta personagem não estivesse morta, seria dificílimo captar a essência das músicas que o suportam.
Assim, temos um filme belíssimo que retrata a relação entre mãe e filha. Ou, sendo mais abrange, a relação genérica entre pais e filhos. O crescimento das personagens é fantástico, e perceber com o tempo passou e afetou cada uma delas, é delicioso. Especialmente com o elenco original.
A trama baseia-se assim na perda de uma mãe, amiga e amada (esposa). Algo muito bem presente em diversos momentos do filme. Quer por referência ao primeiro filme, quer de cenas próprias no filme. É comovente e lamechas, está claro. Acaba por ser mais triste que o primeiro. Mas as gargalhadas continuam presentes, e o crescimento das personagens, também! Especialmente no fim.
Relativamente ao novo elenco, tenho de tirar o chapéu à Lily James, que interpreta a Donna jovem. Fez um trabalho belíssimo, com uma voz pura que dá vida e energia a muitas das clássicas músicas da banda sueca. Já os jovens rapazes que retratam a juventude de Bill, Sam e Harry, não posso dizer o mesmo. O único que escapa é mesmo o jovem ator que interpreta Bill (Josh Dylan) que consegue ter a essência necessária ao ritmo do filmes. Os outros atores, apesar de gostar de trabalhos antigos dos mesmos, não me convenceram muito em termos de atuação. Acho que parte disso se deve também à ação rápida ao contar-se o passado de Donna.
Todavia, e sabendo que parece incoerente, algo que devo notar, é o Harry. O ator fez um trabalho brilhante. E porquê? Porque me fez sentir constrangido com diversas cenas, denotando ele próprio isso enquanto pessoa na história. Tal deve-se àquela falta de jeito que o mesmo tem com o sexo oposto que faz, em parte, a audiência ficar embasbacada – lembram-se que ele se descobriu homossexual no primeiro? Algo que foi bem retratado pela descoberta que ele próprio estava a fazer. Pela tentativa que deu em amar alguém e, falhar.
Algo que poderia ajudar à atuação, era uma melhor montagem. Refiro-me à maneira como o filme é escrito. Sendo uma sequela e, ao mesmo tempo, prequela, pessoas mais velhas acabam por ficar mais confusas. Apesar de o filme corrigir isso com cenas e momentos pontuais, a maneira como é feito no trailer, é melhor.
Por falar em trailer… acho que é difícil dizer que a história é previsível. E porquê? Visto que nos trailers a história que é apresentada é a de que a Sophie está grávida, no filme esse não é o motor da história. É sim, aquele que ditou o fim do último filme: a abertura de um Hotel, com a ajuda da Internet para o maximizar. A gravidez é presente, mas sim para terminar o ciclo que a protagonista – que a Amanda interpreta -, vive.
Não posso deixar de apontar que o novo elenco poderia ter usado umas lentes de contacto, para não entrar em incongruência com o primeiro filme. Mas falando em incongruências, para além dos olhos, temos a ausência da gaita de foles que o Sam deu a Donna e a guitarra dada por Harry. Histórias presentes no primeiro filme. Claro que a maior, é a mãe de Donna. No primeiro filme, é referido que a mesma está morta.
Avançando… Com a tristeza inerente em momentos chaves do filme, em que até há o regresso de uma versão acapella da S.O.S., é fácil haver uma identificação grande com todas as personagens do elenco original, em que vemos uma Sophie, amigas e “pais” da mesma, a lidar com a perda de Donna. Revelo que umas lágrimas me rolaram em alguns destes momentos, que nos fazem pensar na perda dos nossos entes queridos. Algo que, infelizmente, todos passamos, ou passaremos…
A energia continua no filme, as músicas e boas atuações continuam lá também. No entanto, para mim, o grande momento chega quando é entoada com grande emoção a música “My Life, My Love”… Um momento único, de grande atuação por parte da Amanda e da Meryl. Tocante, e só possível de recuperar dele pelo desfecho que o filme tem. Semelhante ao primeiro. Dei por mim a preferir, novamente, às versões musicais do filme do que as da BSO.
A participação da Cher, claro, foi também memorável. Mas muito pela sua voz, já que a sua história, bem como outras passadas, acaba por servir para alavancar a trama principal: da Sophie conseguir realizar, com sucesso e a orgulhar a mãe, o seu hotel. Não a achei, como atriz, um marco histórico no filme, mas não foi mau de todo…. Muito por culpa de alguns diálogos. Algo que pode ser explicado pela personalidade de diva que a sua personagem tem. Que não se consegue relacionar com os “meros mortais”. Mas será só isso?
Em suma, estes 10 anos demonstraram um grande avanço na maneira de contar histórias no ecrã e isso é visível. Confesso que até foi estranho ver momentos do filme passados fora da mítica ilha grega. Mas não poderia ter sido feito de outra forma. Algo que não mudou foi a dupla das melhores amigas de Donna. São elas que carregam todo o humor do filme e que fazem a sala soltar gargalhadas audíveis, atenuando a melancolia que se vive com a história.
Acabo esta publicação a revelar, no entanto, o descontentamento por o filme não ter incluído a última música do álbum lançado. A música interpretada por Meryl, de nome “The Day Before You Came” foi excluída e, para mim, constitui um erro grande. E porquê? Porque acredito que teria sido muito bem empregue no nascimento do filho da Sophie, ao invés de um salto temporal de 9 meses, que acho que não encaixou bem na dinâmica do filme. Como se um final apressado, apesar de bem trabalhado em termos de história. (A música “I Wonder (Departure)” também não se ouviu no grande ecrã. Talvez numa edição especial quando sair em DVD?).
Considero assim que uma pontuação de 8/10 assenta bem nesta história quase que intemporal. Que conta não só o significado de terminar a faculdade e de se iniciar uma vida independente, longe dos pais. Assim como todas as dificuldades, perdas e desafios. É um filme leve, engraçado, bonito, e que nos faz reviver clássicos e com a vontade que um Mamma Mia! 3 chegue rápido. Como tal não acontece, podemos ir recriar alguns dos passos de dança destas músicas para a praia mais próxima!
One thought on “Lá fui eu novamente… 10 anos depois!”