Dou por mim a olhar pela janela do meu quarto, a pensar o quanto o que vejo diante dos meus olhos, mudou. Não só as árvores, ou a erva que teimosamente cresce. Eu também!
Já não sou aquele menino que corria de um lado para o outro, a subir às árvores. A brincar na casa de madeira construída em família, e que corria com medo quando uma aranha lhe aparecia na t-shirt.
Eu agora já não subo às árvores, a não ser para roubar uns figos ao vizinho, que os deixa cair para o nosso terreno, nem a casa de madeira existe. E há medida que o tempo passa, as vontades mudam, e as aventuras que antes me enchiam o espírito, são voltadas à aventura do descobrir. Descobrir novos lugares. Novas pessoas. Novas memórias. Novos “eus”.
Mas continuo ainda a olhar pela minha janela do quarto, aquele que me viu crescer e que, possivelmente, mal mudou. Claro que as paredes deixaram de estar despidas para ostentar posters dos meus filmes preferidos, e mesmo esses, começam a ocupar um lugar na minha estante. Só os especiais. E é nesses momentos, quando penso nisso e vejo o meu pai pela janela, me apercebo deste hábito, tornado gosto, que dele veio. Pela própria coleção dele que ocupa a garagem, com clássicos como Star Wars, Alien e Indiana Jones. E não é tão engraçado como mesmo agora, esses filmes continuam? Ainda este ano saiu um do Alien, e sairá outro da Guerra das Estrelas. E, em dois anos, um do Indiana Jones, ano da conclusão da nova trilogia da Guerra das Estrelas…
Ai.
Como o tempo passa. Cresci a ver Harry Potter, e os meus Piratas das Caraíbas, apanhando a febre do Crepúsculo pelo meio. Livros esses que me fizeram descobrir o género da literatura fantástica. O “meu” género… Mas foi só com a passagem do tempo que isto aconteceu. Um claro sinal dos tempos…
Mas agora as luzes que vejo pela janela são as do natal. A minha altura favorita, pelo reencontro com a família, e a pergunta que mais medo tenho, se instala. Será que todos os anos continuará a ser assim? Ou será que irei crescer também? Que o tempo passará pelos membros da família ao ponto de os roubar de mim, e com isso, trazer um natal diferente? Uma noite diferente? Ou que eu irei crescer, e terei o meu próprio natal? Será que será o mesmo?
Não sei… Mas aquilo que já consigo antever é que tenho medo de crescer.
É normal? Será que mesmo com toda a aventura que quero, tenho, e planeio, este medo pode aparecer e crescer?
Acho que irei mesmo é continuar a olhar pela minha janela. A janela da vida, e saborear o que tenho. Saborear o presente, e dar valor a cada pétala que cai, a cada chuvada, a cada raio de sol. Cada pessoa. Cada ano… E só assim, consigo perceber quem sou eu próprio. Como cresci. E o que serei. Porque, meu deus, se aos 22 não se tem uma crise destas! A que pergunto quem sou eu. O que faço. E, mais importante, para onde vou… Continuarei a ter a mesma vista? A compreender o que vejo diante de mim? Mas não sei…, não faço ideia.
Agora vou voltar à minha janela. Ver o que amanhã me espera. Sentir o calor dos primeiros raios de sol, até à solitária lua, tão bela, lá no alto. Aquela que me acompanha nestes devaneios depois da meia-noite, onde a lógica e a razão deixam de me fazer sentido para dar lugar aos receios que mais escondo…