Não sei até que ponto percebem o que quero dizer com o título da publicação. Sei que quem está na área das ciência sociais ouve com frequência este assunto. Esta expressão. Mas e quando ela passa para a vida corrente?
Há algum tempo que queria desabafar sobre isto. Sobre o que sinto ainda em momentos da minha vida e que me faz ter vontade de me atirar para um precipício. Não por me querer suicidar, mas pela parvoíce que é. Acontece que ao longo da minha vida sempre tive receio de sair do meu conforto. Foi algo que sempre vos disse, e até já reflecti disso mesmo. Mas até que ponto é normal? Será uma paranóia?
Isto acontece-me muito em questões ligadas a desafios profissionais. Aconteceu com o nervosismo de me inscrever num voluntariado – que acabei por adorar -, e o mesmo para o meu estágio curricular no Município de Leiria. Era o medo de pensar que não era bom o suficiente. Que do outro lado, estava alguém que poderia dar uso à expressão “Portugal, um país de doutores”. De não aceitar alguém mais jovem num país onde parece que não importa dar-nos voz.
Não vos estou a falar do medo de fazer alguma coisa porque preferia ficar no sofá. Mas nem nisso era bom, mas também acontece que por vezes ainda tenho os meus momentos de duvidar. De adiar uma coisa que sei que tem de ser marcada custe o que custar. É verdade que tenho aprendido a ultrapassar isto. Vem pela, lá está, experiência. Mas não consigo deixar de transpor isto para o que é a nossa sociedade nos dias de hoje.
Parece que o nosso mercado, e as pessoas, começa sempre por julgar alguém pelo seu CV. Quer seja profissional, quer um CV de experiências, parece que cada vez mais se aponta o dedo. Quando remetemos para as gerações atuais, em que o telemóvel e as SMS são a forma de comunicação, a situação parece agravar-se ainda mais. E digo-vos isto até pelas pessoas que fui conhecendo, que demonstravam vergonha e desconforto em falar ao telefone. Em especial quando se envolvia trabalhos ou falar somente com uma companhia de seguros, um gestor bancário que nos chateia após a criação dos cartões universitários, ou simplesmente com uma pessoa desconhecida. Com isto, será que “o medo de ir para o campo” se aplica aqui? Do tentar? Do experimentar algo que seja fora do nosso domínio?
Acredito que parte disto vem do medo de sofrer pelo fracasso. Do não saber como reagir, como responder, do vocabulário que usar e até da postura a adotar. Mas quando este “ir para o terreno” é fundamental para a nossa autonomia e vida adulta, até que ponto a nossa vida e educação, nos prepara para isto? Para a vida adulta? Será que damos aos nossos jovens o à-vontade e, ainda mais, a confiança, para o fazer? Será que lhes demonstramos que não há mal em errar?
One thought on “Quando se tem medo de ir para “o campo””