Hoje o Facebook faz quinze anos. Sim, a rede mais popular – ou a que foi em tempos mais popular-, está de parabéns. E com isto não conseguia deixar de pensar no quanto mudámos, como sociedade, com ela. Mas será que foi pelo bem, ou pelo mal?
Muitos são contra a rede e nunca lá meterem os pés, outros não conseguem viver sem ela. Mas antes de pegar nisto, tenho de recuar alguns anos atrás. Era impossível não o fazer.
Fui a primeira pessoa da minha turma a ter Facebook. Lembro-me bem do que me fez aderir à rede e do próprio momento. Era dia de natal, já a tarde ia longa, quando a minha prima me mostrou o Farmville. O famoso jogo de agricultura e que ficou popular por longos anos, foi o responsável por me fazer aderir a esta rede e a apresentar a muitos colegas. Claro que a comunicação social fazia o seu papel em falar dela e de como ia crescendo, mas sabemos bem que na era da adolescência pouco ligávamos às notícias. Com isto surgiu a minha paixão pela rede. Uma que ainda mantenho… Mas quero explicar-vos o porquê!
Para mim, o Facebook é a rede em que consigo manter contacto, ou saber como estão, as pessoas com que me cruzei na vida. Falar com elas. O mesmo para a convivência familiar quando esta ocorre a quilómetros de nós. Nunca fui dos que aceita todos os pedidos de amizade, nunca. Só aqueles que conheço! E hoje, em que se comemora também o dia sobre a prevenção na internet, dou graças por assim ter sido. Mas não é só por questões relacionais, mas sim do saber o que se passa com o mundo. Do acesso a uma informação. Mas é nestes dois pilares que está, igualmente, o maior problema da rede e que a sociedade não soube, nem sabe, lidar com ele.
Tenho de começar pela identidade. O que partilhamos na rede. Sendo algo muito debatido, todos já sabemos os perigos de certas publicações e o impacto que possam ter em momentos futuros da vida. Mas também sabemos dos perigos que a partilha, ou o excesso dela, desempenham no roubo de identidade ou até em questões de bullying, estigmas e até a depressão. Todas estas questões são preocupantes, mas nos dias de hoje parece não existir uma educação para isso. Ou seja: vivendo nós num mundo em que as crianças de tenra idade têm já acesso a um smartphone, como é que o nosso sistema educativo não ajudou estas crianças, pais e professores, a adaptarem-se a esta realidade? Algo igualmente preocupante é a forma como comunicamos. O esconder atrás de um ecrã e destilar veneno, denegrir alguém, só porque não estamos cara a cara. A enfrentar a situação de frente. E o problema é que quem o faz alia-se de uma explicação democrática que de humana nada tem. Bem sabemos que somos livres em pensamentos e ações, mas não será que nos dias de hoje se quebra já a liberdade dos outros? Não estou aqui a culpar o Facebook por isso, obviamente. Mas é certo que as redes sociais influenciaram a comunicação e parece que hoje, para além de não sabermos lidar com isso, colhemos os frutos.
Algo que me surpreende é o facto de já ninguém ligar a uma pessoa, ou até mandar uma SMS. Parece existir vergonha em ouvir a voz de alguém ou se ouvir a própria! Agora tem de passar tudo pelo digital, quer seja pelo Instagram, Messenger ou WhatsApp. Com isto a minha pergunta é: tenho então de estar sempre online? Estar constantemente ligado à internet? Eu acho ridículo, em especial quando nos dias de hoje assistimos a desculpas bizarras quando não obtemos resposta ou não houve uma mensagem vista. Foi como se a comunicação entre pessoas, amigos, se tornasse obrigatória por haver tecnologias que nos avisam se a mensagem foi ou não vista. Não parece haver genuinidade, e dando-se mais importância a uma vida vivida e marcada pelas tecnologias de comunicação, perde-se a marcada pela convivência.
Aliado a estas questões está a forma como os utilizadores, eu incluído, vamos crescendo nestes meios. Acontece que tendo nós acesso a tanta informação, parece que a característica biológica do ser humano: a de ir à aventura, à procura de conhecimento, se dissipa. Mas o problema agrava-se quando damos primazia a notícias sem relevo, tudo para se obter um gosto, revertido a dinheiro em publicidade. Ainda mais grave é a proliferação de notícias falsas, abalando a boa lógica de qualquer pessoa. Uma das que mais se vê é a informar que o Facebook irá passar a ser uma empresa pública e se não se colar e partilhar um texto, ao abrigo dos artigos/acordos X,Y, Z, a empresa poderá utilizar os dados partilhados pelos utilizadores.
Por. Amor. De. Deus. Como é que se pode acreditar em algo que tem de ser partilhado? Como é que as pessoas não pensam que se tal mudança brusca acontecesse, receberiam notificações da própria rede? Ou era até noticiado na comunicação social? Nem vou falar da pesquisa dos artigos ou acordos que tão bem acompanham um texto sem fundamento, mas como é que a lógica da nossa sociedade se afetou tanto?
Em suma, temos um grande acesso a informação, conteúdo, e não estamos preparados para lidar com ele. Muitos podem culpar o Facebook disto, ou a internet. Mas isso é enganar-nos a nós próprios. Sabemos que muito advém da forma como se sintetiza conhecimento e nos relacionamos com o outro, e por mais que a internet tenha dado ferramentas que nos fez escolher certos caminhos, a internet não tirou o nosso livre arbítrio. Ou será que tirou?
Não tenho como saber para onde vamos, ou como serão as próximas gerações. Tudo o que sei é que a ciência e tecnologia terão um papel gigantesco no nosso futuro. Um futuro que já não se diz a séculos ou décadas de distância. É um futuro que acontece agora. Mas teremos nós as ferramentas para lidar com ele? Estamos predispostos a isso?
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