Estou a escrever-vos isto hoje, no Porto. A minha cabeça lateja, de tanta dor que lhe foi infligida nesta semana. A recuperação vai ocorrendo a cada minuto, mas se há coisa que a ajuda é a escrita. E é por isso que começo assim esta publicação. Estamos numa altura em que sabemos os benefícios da escrita em termos da dor emocional, mas sabiam que também consegue ajudar na dor física?

Mas não é só de dor que vos quero falar. Quero antes recuperar esta ideia de 2018 e guardada em rascunho, com aquilo que a escrita me ensinou. Não só a nível literário, como profissional.

Escrever ajudou-me a Imaginar

Pode parecer uma afirmação contraditória, já que é pela imaginação e pelo nossa capacidade de pensamento abstrato que temos de ter imaginação para escrever. O que é certo é que o ato de escrever sobre diferentes perspetivas, pontos de vistas, situações sociais, ajudou-me a colocar no lugar do outro. A perceber que muitas das questões não são tão lineares quanto uma pessoa pode pensar. Acredito que o poder da imaginação é enorme por isto mesmo, e é por isso que ler é algo da máxima importância. Ajuda a compreender.

Escrever ajudou-me a Refletir

Aliado à imaginação, escrever permitiu-me ser capaz de pensar sobre o que leio sobre formas que antes não pensara. A refletir não só sobre escolhas que eu tomava para as personagens, e de com isso refletir não só com elas, mas de refletir a minha própria vida.

Escrever ensinou-me a ser Crítico

Uma coisa é imaginar o que está escrito. Outra é refletir sobre essa mesma imaginação. Uma completamente diferente é sabermos criticar. É termos a nossa capacidade de auto-reflexão aliada a uma introspeção que só é possível por um certo distanciamento e vontade enquanto leitor.

Escrever Ensinou-me

Com isto, escrever ajudou-me a perceber o mundo. A pensar sobre ele, sobre mim, e a transcender para algo quase que palpável. Algo que muitos não conseguem compreender de todo. Acaba por ser uma paixão da qual só quem o faz, percebe em pleno.

Escrever Ajudou-me a Mim

Comecei esta publicação por meio de uma escrita a apelar a um lado emocional e sensorial de quem a lê. Mas para isto é preciso quem escreve sentir. Mas para sentir, é preciso saber também o que sinto e o que quero fazer com esse sentimento. A escrita é essa resposta. A escrita ajudou-me na solidão, na tristeza, na felicidade, na ansiedade, na excitação, na dor e no próprio mistério da vida e do que é viver.

Escrever ensinou-me a Falar

Ao escrever, rapidamente me apercebi dos erros feitos na fala. Quer seja por uma interação verbal com o outro, ou até escrita, a escrita têm-me ensinado diariamente a como comunicar com os outros e/ou entidades. Tenho plena consciência disso por meio da comunicação feita por e-mail, ou até na reclamação de um serviço. O saber pensar, raciocinar, e ser crítico. O saber para quem estou a falar e com quem. Ainda importante, e no caso da comunicação feita com terceiros/empresas: saber que estou a falar com um empregador, e não com a entidade. O saber distanciar a ira ou a raiva para um serviço ou produto e não para quem o representa é importante, para além de ser educado.

Escrever mostrou-me a Solidão

Acredito que é das maiores afirmações feitas por quem escreve. A forma como se trata a escrita como algo solitário. Aquela paixão incompreendida que vos falei. Mas é por isso que escrever me mostrou como é sentir-me sozinho mas sentir-me bem em o estar. Em ter tempo para pensar, imaginar, refletir, criticar, exteriorizar. Revelou também como pode ser penoso. Como esta solidão de alma – não social -, pode vir a crescer aos poucos dentro de nós. O caminho para lidar com ela ainda aprendo.

Escrever mostrou-me a Ti

Escrever mostrou-me o mundo. Deu-me a conhecer novas pessoas, ideias, momentos. Acontecimentos que se traduzem e me moldam em cada palavra.

Escrever ensinou-me a ter Coragem

Quando escrevemos existe um medo enorme em mostrar o que escrevemos. Porque, vejam, quando estou a escrever isto, estou a mostrar parte do que me vai no pensamento. Quer seja no pensamento imediato ou naquele ativado para a ocasião, escrever implica ter noção das palavras que uso. Na forma como as uso. Implica também ser capaz de dar a cara por elas, afinal de contas não estou numa zona de comentários – abominável – das Redes Sociais. E lidar com isto, e falar da escrita em público, ajudou-me imenso com a vergonha.

Escrever ensinou-me a Falhar

Em qualquer coisa que façamos, o falhar é comum. O reconhecimento de nada serve se sentirmos que ao escrever estou a falhar comigo próprio. E depois não é só isto: é o ler ser algo cada vez mais difícil de incentivar em Portugal. Vive-se tanto no imediato, que é difícil o público ler e desenvolver este sentido de crítica e imaginação para conseguir ajudar o criador de conteúdo ou ideias. O falhanço de se enviar primeiros manuscritos e não se obter resposta é também muito comum, e que me ajudou na minha própria construção. No saber pegar naqueles primeiros tópicos que vos falei, e aplicar ao trabalho feito e no futuro. O saber olhar para o que eu faço, e ter a coragem de me dizer que não chegou. Não foi bom o suficiente. E falhar é isso: incentivar a trabalhar mais para um objetivo, um sonho, uma realização pessoal.

Escrever ensinou-me a Ler

Após tudo isto, sim, posso dizer isto: escrever ensinou-me a ler. A ter atenção a detalhes que antes não tinha porque tudo o que queria era devorar e não apreciar o trabalho daquele autor, artista, jornalista ou investigador. Escrever ensinou-me não só a ler o mundo escrito, mas o que me rodeia, e isso nunca, mas nunca, vou esquecer.

O que vos ensinou o exercício da escrita?

3 thoughts on “O que aprendi com a escrita?

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