Ontem falei de como pedaços do meu abril iriam marcar o blog. E por mais que para muitos possa parecer uma coisa estranha de se falar, o que é certo é que preciso de falar desta mudança. Preciso de refletir com vocês algo que eu próprio abordei ao escrever o manuscrito no que virá a ser o meu terceiro livro.
Sempre vi o meu quarto como o meu porto de abrigo. Não aquele que agora tenho no Porto, mas sim aquele que me viu crescer. Foi nesse quarto que decorei ao meu gosto, com posteres nas paredes dos meus filmes favoritos. Foi onde chorei e ri a ler livros, assim onde escrevi muitos dos meus textos. O que é certo é que, quer fizesse chuva ou sol, aquelas quatro paredes eram minhas. Com os meus livros, a roupa na cadeira da secretaria, e a própria secretária…, que raramente usava por preferir a cama ou a sala. Joguei muito, conversei com muita gente lá, e sonhei e desesperei por sonhos que hoje julgava serem impossíveis de ter tocado.

Acontece que em abril remodelei por completo o meu quarto. Arranquei os posteres da minha adolescência para dar lugar a paredes límpidas, descontraídas, fruto da pessoa que me tornei. Os livros ocuparam um novo espaço, assim como à fotografia e vontade de explorar, ao ter colocado com o meu pai papel de parede de uma cidade – até já o viram, a fazer de fundo ao livro Black Heart. Foi um dia inteiro de trabalho que até levou a mudar por completo a disposição de onde dormia. E sabem o mais engraçado? Quando volto a Leiria, àquele mesmo quarto, apesar da nostalgia, durmo melhor. Sinto literalmente as marcas do crescimento e de que forma elas me levaram até onde estou.
Escrevo-vos isto do Porto, já com uma saudade desse quarto, mesmo que aqui nesta cidade tenha um outro que começa a moldar-se aos meus contornos. Mas isto só me leva a pensar o como o quarto de um jovem é importante. Em como um pai ou mãe o deve respeitar. Um quarto não é só mais uma divisão da casa. É por si só um elemento vivo, alimentado pelo seu hospedeiro. Um quarto pode ser um refúgio, como pode ser um pesadelo. Cabe a cada um de nós saber lê-lo, quer enquanto jovem, como adulto. Afinal de contas, quando temos os pais a retirarem os jovens da rua para os meterem fechados em casa, são muitas as ameaças de que as quatro paredes são testemunhas… Momentos que ditarão a forma como uma criança, ou adulto, cresce.
Não o vou partilhar aqui por completo, já que quero manter este espaço para mim… Mas o que é para vocês o vosso quarto?
Faço das tuas, as minhas palavras sobre esta divisão porque é precisamente o que sinto. É o meu espaço, o meu cantinho. Aquele lugar só meu, onde guardo parte do que é meu.
Em 2009 também decidi remodelar o meu quarto, retirei o quadro de cortiça com posteres e fotos dos meus ídolos que estava à entrada na parede e decidi ocupar apenas duas paredes com duas citações especiais: uma do Miguel Esteves Cardoso sobre a amizade e outra do meu último livro. As paredes eram brancas são agora azul.
Da adolescência resta um poster do João Pedro Pais que mantive por me ter sido oferecido por um tio que já faleceu, trouxe-mo da Suíça e em sua memória mantenho-o na lateral do armário.
Acho que a nossa maturidade é que provoca estas mudanças, mas as memórias ficam para sempre.
Beijinhos!
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Uau! Foi isso mesmo que senti. E por mais difícil que tenha sido mudar, porque acreditava que queria assim o quarto para sempre, soube bem fazê-lo. Houve uma grande excitação na mudança.
Adorei muito o facto de teres metido citações. Acho lindíssimo e espero que quando tenha uma casa própria, conseguir fazer algo do género.
Beijinhos
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