Tese. Dissertação. Trabalho universitário final. Esta palavra tem-me quase acompanhado desde o secundário. Ouvia falarem do momento da tese como algo tão temido, que receava que na licenciatura teria de a enfrentar. Fiquei bastante contente por só ter lidado com um relatório de estágio. Porém, quando pensava que estava livre de tamanhas responsabilidades, o facto de querer ir para um mestrado levou a melhor. Era algo que queria muito, e algo que teria de enfrentar. Quer fosse mais cedo, ou mais tarde.

Quando comecei a pesquisar sobre possíveis linhas de estudo a seguir, ao descobrir o mestrado em que estou, dei-me conta de como poderia escolher entre “Dissertação, Projeto e Relatório de Estágio”. Atendendo a que no primeiro parágrafo vos referi o medo que tinha do escrever uma tese, não é difícil de imaginar que o que queria era um estágio. Não propriamente para fugir ao bicho-papão, mas até como forma de ter experiência acrescida no terreno.

O semestre foi assim passando. Tudo se encaminhava na perfeição… até que algo aconteceu. Não foi propriamente algo, mas antes um evento que acabou por me alterar o esquema. Aconteceu que ao ter uma orientadora e ela saber o que queria – e ela ter gostado – o tempo do estágio seria curto para concretizar algo objetivo. Quando isto se deu, fiquei quase que em choque, mas como estávamos em reunião coletiva com outros orientandos, acabei por mastigar a notícia de ânimo leve. Sim, sentia-me leve. Porque reparem, apesar do medo da tese ser algo muito real para mim e qualquer universitário, o saber que ainda continuava com uma vertente muito prática, levou a que me sentisse confortável com a mudança. A aceitar que, mesmo não seguindo com o que queria inicialmente, estava num caminho cujo objetivo era estudar algo que me desse gosto e numa área pela qual sou apaixonado.

As semanas foram-se assim passando, e de dias passámos a meses. E todo aquele “ânimo leve”, começou a pesar. Mas não por arrependimento, mas por quem está ao nosso redor olha para a tese e não a compreender. Não perceber o que é ou o que implica. E é muito! E é um muito que tanto pode ser muito, como pouco. Isto é: a partir do momento que se define o objetivo de estudo, tive de começar a ler toneladas de documentos/textos/livros científicos que me fossem ajudar. E por mais que não estivesse a escrever a dissertação, existe um conjunto de novas ideias e horizontes a abrirem-se na nossa mente. É um momento cansativo, mas consegue ser deslumbrante. Não propriamente peço cansaço, mas por estar a ler algo que goste. Que tem um propósito e que ninguém me obrigou. Uma consciência da escolha feita e de que a valido.

Como gosto de escrever (reparem bem já no tamanho desta publicação), confesso que no final de janeiro já tinha feito bastante. Aproveitei a altura de natal para ler e petiscar o que se fazia sobre aquele tema, para depois passar a vasculhar em trabalhos do mestrado e perceber o que poderia reutilizar ou aproveitar para este trabalho já final. Foram muitos os documentos e horas passadas a compreender como poderia dar vida à dissertação em mente, mas lá consegui. Acabei por entregar um primeiro rascunho de alguns capítulos no final de janeiro. Todavia, quando pensava estar num bom caminho, só quase um mês e meio depois, tive acesso a notas da minha orientadora e de que deveríamos fazer algumas mudanças. Isto tudo deu-me logo cabo da cabeça. Não por o que tinha escrito, porque se aproveitava, mas por o que andava a ler. Porém, quando pensava que estas alterações fossem negativas, acontece que se revelaram num simplificar de trabalho que só graças à minha orientadora tenho conseguido desenvolver.

Meter-mo-nos numa tese não é fácil. E escrevo isto com toda a certeza por tudo o que vou vendo e sabendo. Existem diversos momentos em que até penso arranjar um part-time, mas quando fico tão dependente de instituições governamentais para conseguir recolher dados (recolha empírica), isso torna-se dificílimo. Não é só conjugar duas vidas, mas dois trabalhos completamente distintos e com tempos que convêm ser respeitados. Isto leva a outro ponto, e muito stressante: o ter local para recolher dados. O meu trabalho inicialmente iria incidir sobre Trajetórias de Vida, Identidade e (Re)Socialização em Jovens Pré-Sentenciados. Uma vez que estão pré-sentenciados (ainda não julgados pelo Tribunal), obter participantes foi dificílimo. Algo que levou 3 meses a perceber que teríamos urgentemente de mudar, de forma a conseguir ter tudo terminado no final do ano para conseguir começar outro capítulo na minha vida. Essa mudança acabou por ocorrer em maio, tendo-se revelado certeira ao ter terminado na passada semana a recolha de dados num Centro Educativo.

Desenvolver uma tese, e escrever para uma, não é fácil. Sem apoio, nem consigo imaginar como seria. Mas mesmo tendo este trabalho, confesso que me tenho apaixonado pelo tema e realidade que estudo, assim como este trabalho poder dar novas luzes sobre problemáticas tão presentes na nossa sociedade. Existe muita solidão e suor não visível para quem nos acompanha. Há até momentos em que desistir parece o mais fácil. Ou então sentirmo-nos completamente perdidos diante de tanto artigo lido onde encontrar a nossa própria voz se revela complicado. Duvidamos das nossas ideias, e a rotina de trabalhar nelas é um autêntico desafio e que não depende só de nós e da nossa vontade.

É, sem dúvida, uma experiência enriquecedora, e por mais que tenha começado por revelar o quanto receava uma dissertação, hoje, penso de forma diferente. Tenho plena consciente que irei ainda sofrer ao analisar os dados em programas xpto para os interpretar e refletir. Tenho consciência de como férias de verão são uma coisa do passado. Mas estou cada vez mais curioso para ver o resultado final e espero, sinceramente, que no final, o que tenha aprendido seja superior a qualquer outro entrave que eu próprio me tenha colocado…

One thought on “O drama de uma tese

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