Se há verão que me permitiu pensar, foi este. As temperaturas não ajudaram, e o vento agreste a sul do país quase que punha fim ao tumulto que ia dentro de mim no que toca à sociedade em questão – em especial, quando estamos em ano de eleições. Mas o calor em mim não abrandou, e comecei a pensar na vida quotidiana que levamos e a forma como a sociedade olha para todos nós.

Penso que vivemos na era do “nos assumir”. De revelar ao mundo quem somos. E isto acontece de diferentes formas…, quer seja numa rede social, quer aos nossos amigos ou familiares, faz parte da adolescência e da vida adulta assumir-mo-nos aos outros. Quer seja em convicções, crenças, projetos, sonhos, orientação sexual, ideologias ou até comportamentos, a palavra assumir aparece pautada. Quase como um lembrete de que temos de o fazer. Mas sabem qual é o problema disto? Deste assumir quase que forçado por que muito ser humano passa? É quando este assumir não acontece em nós mesmos!

A nossa identidade

Temos sonhos, ideias, projetos. Gostamos de x, y ou teta, porque o z não é opção para nós já que gostamos do que gostamos. Mas no meio desta correria, nesta identificação do nosso Eu e de quem somos, da nossa identidade, a pressão social por vezes não deixa respirar. Libertar. Existe por vezes tanta necessidade de se fazer ouvir, que essa voz não é só mais alta, como faz um eco que estremece aqueles que ainda não assumiram a sua identidade. Assumiram a eles próprios. A nós próprios. A ti mesmo. A mim mesmo. E isto pode doer. Magoar. Aumentar um sofrimento silencioso do qual nós não sabemos nada. A empatia é um fator chave nas relações humanas. No nosso contacto para com os outros. Mas será que temos tempo para pensar em nós? Para termos a coragem de admitir a nós mesmos quem somos, o que queremos, do que gostamos, quem queremos ser ou que queremos ser?

Eu acho que não. Que não existe um momento STOP e somente um de cedência de passagem. Um vai, segue o seu caminho, e eventualmente “eu” serei a seguir porque o meu momento é o próximo e não posso parar. Ou até posso, e devo, mas conseguirei assumir a mim mesmo o porquê de o fazer? Ou melhor: respeitar a minha própria decisão?

Todos nós temos direito a nós mesmos. A respirar sem ter a cabeça – e a alma – a prémio. Mas nesta correria de contar aos outros, contamos realmente a nós mesmos? Aceitamos? Não aceitamos? O que fazemos com este sentimento?

Não tenhamos medo de nós mesmos

É fundamental assumir-mo-nos. Quer seja num contexto profissional, como nas relações pessoais e íntimas. Mas sabem? Fazê-lo primeiro a nós mesmos é, talvez, o que mais custa. Sabemos que não estamos sozinhos, porque há quem passe pelo mesmo, mas a verdade é que na nossa mente, a perceção é outra. E enquanto estamos nesta dança, encontrar força na nossa voz é tudo. É um acreditar em nós. No tu e eu. Afinal de contas, se não acreditarmos que somos todos heterogéneos e não homogéneos, o que é realmente um ser humano?

Em suma, não tenhas medo. Mas não faças do medo o teu inimigo. O medo quer dizer alguma coisa, e temos os nossos motivos. Mas se o que fizermos for feito por nós, por querermos, então tudo pode ser facilitado.

One thought on “Assumir-te(-me)

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