Esta é, talvez, das perguntas que mais fiz no último ano. Encontrar a resposta foi bastante fácil, mas só agora a consigo ver com clareza. Só agora, ao fim destes meses, consigo aceitar muitas das mudanças como duradouras e partes fundamentais da minha vida.
Olá, vida adulta.
Aquilo que mais mudou foi a forma como olho para a casa e para o que lhe tenho de dar. Isto pode parecer estranho de “dizer”, mas a verdade é que muitos dos hábitos que a minha mãe me incutiu em casa, comecei a aplicar ao mudar-me para o Porto. Quer seja nas limpezas, cuidados a ter com roupa, janelas, assim como à cozinha, viver no Porto deu-me uma independência que nunca pensara vir a ter – por ter estudado em Leiria. Foi muito engraçado, e continua a ser, como a educação e observação realmente têm resultado. Confesso que adoro lavar o chão e aspirar, já para tirar a loiça da máquina o gosto não é o mesmo… Não vivendo sozinho, a harmonia e respeito pelas tarefas do outro é também fundamental, especialmente no que toca à organização doméstica.
A dependência na independência
A independência é maravilhosa. Lembro-me como nos primeiros meses saia de casa sozinho para ir descobrir e fotografar a cidade. Porém, com o mestrado a apertar no que toca a trabalhos, e agora com a tese, a liberdade pode ser perigosa. É difícil, por vezes, saber-me organizar ou dar prioridade às coisas. Tive a sorte de desde cedo me obrigar a dar – finalmente – uso a agendas e a escrever nelas. Se não fosse isto, organizar-me entre mestrado, voluntariado na associação IPSUM Home, e à sociedade que faço parte – Casas de Turismo -, ter tempo para o blog e escrever seria difícil.
Não estou a dizer que sou “super” certinho. Não. Por vezes estou tão saturado que acabo por divagar mais. Uma vez que tudo isto acontece em frente ao computador, ler ou passear é quase a única solução. Porém, quando isso também me dá um outro desgaste, tudo isto se torna perigoso. O Ricardo é uma grande ajuda e se não fosse ele e outros amigos, ter tempo para mim mesmo seria difícil. Ter-me inscrito num ginásio ajudou assim muito, e é uma hora por dia que tenho dedicada a mim e aos meus pensamentos.
De forma meio que resumida, esta independência e tempo e espaço para crescer, ajudaram-me a desafiar. A dar-me mais voz para lidar com coisas que antes não enfrentava, assim como de procurar novas oportunidades para mim. Quer seja num manuscrito ou no blog, até ao voluntariado.
Encontrei-me?
Escrevi este título à toa, e estou agora a remoer para vos dar uma resposta. Amo Leiria. Gostava imenso de viver em Leiria. Mas a grandiosidade do Porto, especialmente em eventos culturais e o encontrar sempre a cidade movimentada, foi sempre algo que me apaixonou. Em Leiria sabia quem era e o que queria alcançar. Estar no Porto, deu-me isso e não só. Foi quando compreendi tudo o que os meus pais e família me ensinaram para aplicar em mim e na tentativa de conseguir ter aqui esta trajetória de aprendizagens na vida. Se me encontrei? Não. Foi antes um complementar de quem eu era e de me dar certezas do que gosto de fazer, como quero fazer e com quem quero fazer.
As responsabilidades
Claro que tudo isto, leva a mais responsabilidades. A saber e ter noção de que agora, mais do que nunca, o que faço: desde por mim, à gestão do meu tempo, tem um impacto muito maior nos outros. É preciso saber coordenar. Saber ter tempo e respeitar esse tempo. É preciso comprometer-me por inteiro, e não por metade. Não posso andar a brincar nisso. Não tenho tempo (isto deu-me vontade para rir). Preciso de saber como posso alcançar os meus objetivos e, por mais que uns sejam mais rápidos do que outros, tenho noção de que também uns vão ficar concluídos primeiro que outros. Isto é uma grande porcaria. Uma revolta também. Mas nem sempre as coisas dependem de nós, e ter ganho essa consciência ajudou-me a perceber que por mais organizado que seja, e compremetido no que quero fazer, as nossas responsabilidades nem sempre se moldam aos desejos dos outros. Claro que isto leva uma outra ginástica de me reeorganizar, e nisso o Porto mudou-me.
E quando tudo corre mal?
Porque sim, acontece. Nestes dois anos, já duvidei mais de mim e das minhas escolhas, do que em toda a minha vida. Tudo por conta da independência e das responsabilidades. No me ter complementado. Por vezes passo dias com uma ligeira melancolia da incerteza do adulto que serei, aliado às diversas preoupações dos jovens dos dias de hoje. Quer seja dúvidas no percurso académico, profissional e, consequentemente, no pessoal. Nem sempre é fácil. Nem tudo é cor-de-rosa ou às flores. A chuva muitas vezes chega, mas aquilo que procuro sempre é acreditar, pelo menos, em mim; as minhas escolhas irão depois dar provas do seu sucesso. Agora, deixar de duvidar de mim, isso seria o caos. Mas as incertezas aparecem em muitos sítios, até na escrita. Serei bom? Valerá a pena? Tenho algo a contar, a acrescentar, a dizer? As respostas nem sempre são lineares. E isso é lixado. Muito! Mas também já vos falei da importância do tempo que é preciso dar para as coisas florescerem; e o que mais me dou conta é que se me perder neste remoinho de dúvidas, posso muito bem acabar por perder a cabeça. E isso, isso não é o desjável.
Quando tudo corre mal? Bem… vou começar por não duvidar de mim e dos disparates que a minha mente criativa adora cultivar. Mas é nisto que o Porto me ajuda. Em me fazer descobrir, e permitir, que cada pensamento não é o último. Em me fazer confiar em mim, e por mais coisas que acotençam, tudo tem um novo prisma e, quiçá, uma nova história…
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