E agora? Agora estão provavelmente a divagar. A “não compreender”. A pensar: “mas toda a gente que leu disse gostar, como é que uma editora não gosta?”. Este “agora” de questões é infindável, e se por vezes nos ajuda, por vezes dá-nos um rombo. Não só na nossa confiança, mas na nossa paixão pela escrita e, ainda mais, pela nossa história.
Tenho de agradecer à Ana Ribeiro por, com o seu comentário na publicação sobre a confiança enquanto autores, me ter dado a confiança numa publicação como esta. Mas, e verdade seja dita, ela era precisa. E porquê? Porque existe mais probabilidade de seremos recusados nos primeiros trabalhos, do que publicar de imediato. Existem diferentes fatores para isto, e vou tentar quebrá-los um a um.
O mercado
Não vou dizer que este é o principal, mas é um “dos”. O mercado literário – como qualquer outro – tem o seu funcionamento e fantasmas. As editoras portuguesas recebem milhares de manuscritos por ano, pelo que selecionar os que vão integrar os seus catálogos ou planos editoriais, torna tudo complicado. As próprias tendência de leitura podem ser um fator determinante nesse aspeto, pelo que apesar de a nossa história poder ser boa, talvez não tenha chegado à nível de excelência. E lidar com isto, de forma indireta, pode ser muito, mas muito difícil.
Claro que temos as editoras Vanity, e umas que fazem um trabalho notável. Mas quando elas estão bloqueadas por grandes grupos editorais, fazer o trabalho de distribuição e divulgação também se torna complicado e fácil de culpar.
Como sabem da rubrica do Caderno do Diogo, existem aqui pontos em que não toquei, mas claro que por vezes não existe simplesmente interesse em publicar autores desconhecidos pelo simples facto de em Portugal se ler pouco. É um risco enorme para as editoras e os seus departamentos comerciais que pode levar a muitos desesperos…
A nossa escrita
Este sim é o pilar fundamental: a nossa escrita. Se temos uma recusa, tanto pode ser do mercado, como pela nossa capacidade de escrever. Atenção: há muito mais do que isto envolto nesta palavra. Por vezes podemos saber escrever de forma brilhante, mas concetualizar e executar uma história nem sempre corresponde a essa realidade. Podemos ter uma escrita flúida, mas uns diálogos plásticos, cenas sem sentido, e até incongruências que ficam tão enroladas, qual novelo de lã, que disfazer esse embróglio implicava reescrever toda a obra.
Aceitar assim que a nossa escrita – a nossa história – pode ser o responsável pela recusa, não é nada fácil. O ter a noção de que algo que tanto trabalhamos, “nada vale” para quem edita. Mas é isto que se tem de trabalhar. Esta concenção. E isto só é possível por meio da compreensão.
Afinal, o que fazer?
Na verdade, é bastante simples. É o relembrar que escrevemos por uma paixão. Por nós, e só depois – eventualmente – para os outros, no caso de querermos que leiam a nossa história. É o saber dissecar a nossa obra e perceber se falha alguma coisa. Ter a capacidade de nos metermos na pele do leitor e editor. Ainda mais se acrescenta a visão das pessoas que estão a ler o manuscrito na sua versão bruta. Nem sempre essas pessoas, com medo, dizem o que acham. Já vos falei de como lidar com as críticas, mas se queremos evoluir, temos de as querer. As mais negativas acima de tudo.
Após todo este jogo: um que leva a sofrimento, solidão, incapacidade de acreditar, podemos inverter o jogo. Dizer a nós mesmos que, havendo fatores que conrolamos e outros que não, conseguiremos trabalhar nos que estão ao nosso alcance.
Falando de mim, foram diversas as vezes que fui recusado, ora que iam levar para apresentação em edição editorial, ora sem obter resposta alguma. É nesta resposta que mais cresci…
Muitos de vocês não sabem, mas algures no ano de 2010 escrevi um livro de fantasia chamado “Perdida”. A ideia, que envolve anjos, seria para concluir a história numa trilogia. Escrevi o livro, contente, e depois revi-o, igualmente contente. Queria imenso despachar “aquilo” para enviar para uma editora (só mandei a uma). Submeti pelo site, e esperei. Esperei. Esperei. Esperei. Meses passaram, e nada mudou. Até que quase um ano mais tarde, o que mudou, fui eu. O compreender como estava grato por não obter resposta. O que tinha mandando era tão horrível, que nem eu, como leitor e editor, publicaria. Podia ler, para me entreter, mas que não teria um, quiçã, valor comercial. Fiquei grato com esta “não resposta”.
Se dizem que no silêncio também encontramos resposta, no mundo editorial isso é aplicável todos os dias. Tanto por uma editora, como por um leitor que, do nada, deixou de ler ou de dar feedback. Mas compreender este silêncio? Compreender as recusas? É doloroso. Duvidamos de tudo. Do que démos por meses. Ficamos sem vontade de continuar para qualquer outro manuscrito. Mas sabem? É esse continuar que, a mim, me resulta. Aprendi tanto com cada manuscrito que escrevi, que novas histórias até me parecem mais fáceis. Os obstáculos aparecem, mas recordar-me que escrevo, em primeiro lugar, por mim, faz tudo valer a pena. E, para ser sincero, muito mais do que eu gostaria de por vezes admitir. Especialmente nos momentos de melancolia e incerteza, onde um documento de mais de 100 páginas se pode transformar numa agonia.
Não estamos sozinhos
É comum – eu incluído – pensamos que os autores publicados não tem medos. Isso é, na verdade, a mais pura das mentiras. Podem encontrar este tipo de resposta nas diversas entrevistas que os autores dão, mas é a verdade. Cada livro é uma explosão de sentimentos e emoções. A incerteza reina nesse novo mundo, mas lembrar-nos que outros, na verdade, nos podem compreender, pode ser a chave para reacender a chama que nos leva a escrever.
Sinto que, muitas vezes, o facto de um autor ser recusado por editoras tradicionais é o que o leva pelo caminho das Vanity porque essas aceitam tudo: tenha ou não qualidade. As editoras tradicionais não têm noção que estão a perder potenciais autores para editoras que nenhum valor lhe dão a não ser o que o autor paga.
Já enviei vários manuscritos para Coolbooks da Porto Editora recebi sempre a resposta que não tinham conteúdo editorial. Falta-me perceber o que é que eles consideram conteúdo potencialmente editável. Nunca percebi.
Beijinhos!
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Infelizmente, se essas Editoras dessem respostas mais estrturuadas, mesmo que desse mais trabalho, podia levar a que muito conteúdo melhorasse e a que muito autor ganhasse mais consciência e, num futuro, até eles próprios tivessem caixas de e-mail mais limpas. Mas não existe esse interesse, infelizmente.
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