Ultimamente tenho-me debatido sobre esta questão. Em compreender até que ponto, planear o que estou a escrever, ajuda. Todavia, não é só na escrita que planear se pode interferir e é sobre isso que quero hoje falar.
Vida planeada, sorte desgraçada?
Eu tentei escrever algo que desse para rimar, e percebendo o quanto falhei na criação desse título, vou mas é pegar nele para dar continuidade a toda esta publicação. E porquê? Porque bem que poderia ter tudo isto planeado na minha cabeça ao ponto de, ao chegar aqui, não ver mais nada. Ter-me limitado tanto, que não conseguia absorver outras coisas e igualmente importantes. E reparem, isto acontecia-me muito na vida. Sempre quis ter tudo esquematizado ou ter datas ou momentos de referência para fazer coisas quando, na verdade, isso me limitava. Mas perceber isto não foi, ou é, fácil. É o desconstruir e eu perceber de que se estiver a planear muito, se os meus sonhos são próprios elementos planificados, como posso depois aproveitar realmente a vida?
Claramente que muitas mudanças nas nossas vidas obrigam a planeamento, reflexão. Mas até que ponto o querermos ter tudo em determinado sítio pode ser, na verdade, prejudicial? Um exemplo que vos posso dar é o deste mesmo ano. Sei que falarei de tudo isto numa publicação reflexiva em 2020, mas o que é certo é que este ano sabia que quereria começar a procurar empreso no último semestre do ano e que queria entregar a minha tese. Adivinhem: saiu tudo ao lado. A minha tese, por elementos que eu não previa, atrasou. Já o meu desejo de trabalhar foi por água abaixo ao ter mandado um currículo no início do ano para no final do mesmo ver que essa “abertura no planeamento” me deu o que queria.
Mas com isto tudo, será que planear é mau? Sinceramente: não. Mas é preciso não cair no erro de nos limitarmos a nós mesmos. É fácil eu perspetivar o que gostava para o próximo ano, mas ao fazê-lo sei de uma coisa: que o risco de não olhar a 360º para o que me rodeia é elevado. Que não vou ver/aproveitar/apostar/arriscar naquela oportunidade/momento/situação porque não estava prevista.
E na escrita?
Bem, na escrita quase que digo que tudo o que digo se aplica, mas com contornos inversos. Isto é: ao termos a ideia para uma narrativa, ela começa desde cedo por ser maior que nós. Não lidamos só com uma história, mas com personagens que interagem com ela, assim como momentos, sensações e ambientes. Planear aparece assim como uma salvação. Uma forma de organizar a mente e o que podemos nós esperar de nós próprios para a história.
Criar ganchos, provocar momentos de grandes reviravoltas ficam facilitados se soubermos certos contornos específicos para a história e que lhe deem credibilidade . Todavia, o que tenho aprendido é que por mais que planeei, nem sempre as coisas saem como queria.
Planear é ótimo. Fazer a estrutura, a base. Mas será que preciso mesmo de planear o que acontece em cada capítulo e a cada personagem? Sim. Posso e, em alguns casos, é fundamental. Porém, o risco que corremos em ficar com a cabeça em água é maior. O inesperado é tão invulgar que, ao aparecer uma encruzilhada, o nosso lado criativo bloqueia.
O melhor dos dois mundos
Como refleti no e-book do Caderno do Diogo (no Wattpad), o que considero melhor para mim é o planear mas deixando grandes janelas e portas por onde a luz e as possibilidades entrem. Por onde sou surpreendido por decisões que nem eu esperava pelas personagens. Sim, as personagens podem ganhar vida, mas se estamos tão limitados com um planeamento rígido, como permitimos verdadeiramente que vivam?
Como na vida, o equilíbrio pauta a nossa convivência. Na escrita o mesmo pode acontecer, basta permitir.
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