Há uns anos escrevia somente por escrever. Queria contar as minhas histórias e o seu significado era baseado em sentimentos e momentos humanos e palpáveis. Se me perguntassem a mensagem, andava meio que perdido a descobri-la. Porém, com a passagem dos anos, fui percebendo o que queria das minhas histórias. Até onde queria chegar…
Onde queria chegar?
Redundância à parte, eu queria não só contar “histórias bonitas”, mas em que as mensagens tocassem em momentos da nossa história. Não falo de literatura histórica, mas sim daqueles momentos, episódios e acontecimentos que marcaram a sociedade nas suas interações e costumes. Era aí que queria chegar, e em O Bater do Coração dei o meu primeiro passo.
No meu primeiro romance abordei o que significava, antigamente, engravidar fora do casamento ou até em tenra idade. Não obstante, a forma como as famílias lidavam com essas circunstâncias, sem esquecer a importância que a migração tinha. A história bonita acabou por se tornar numa sucessão de tragédias plausíveis e sustentadas pela nossa sociedade. Nessa altura só tinha a minha imaginação e uma pesquisa rudimentar fruto das situações e do tempo que tinha. O certo é que o tempo foi passando e escrevi o Esquecido. Como sabem, e estando já nesta altura no Ensino Secundário e com uma base psicológica à mistura, consegui dar mais substância às personagens e história, levando a que a minha formação me complementasse. Não em termos objetivos, mas antes sim como ferramentas que me ajudavam a construir os alicerces. Confesso que nem sempre tive noção disso, mas algo mudou…
A educação ajudou-me a crescer
Foi durante a Book Tour do Esquecido que me fui apercebendo como as aulas de Psicologia do Secundário me tinham moldado no gosto e interesse pela mente humana. Não obstante, os meus manuscritos seguintes foram moldados e carregados com pilares e guias invisíveis da minha licenciatura em Serviço Social. E enquanto que outrora tinha um mero “conhecimento do senso comum”, o conhecimento científico veio validar e contestar novas ideias.
Lidar com isto não foi fácil. Ao invés, se antes sentia-me por completo nos braços da imaginação, desde há coisa de quatro anos isso mudou. Foi uma mudança lenta e só possível graças também à minha mudança nos hábitos de leitura. A minha mente mudou e, consequentemente, a minha predisposição alterou-se por completo.
Cada perspetiva merece ser contada
Foi este crescimento pessoal e profissional que me tornou mais sensível. Me deu “consciência” ao olhar para a realidade em que estou e dar-me conta como, a cada passo que dou, uma história se mete no meu caminho. O perceber que, não só cada história merece ser contada e lida, como cada perspetiva merece ser, não só ouvida, mas refletida.

Já em diversas publicações falei da importância em se ouvir o outro lado da história. Que existem diferentes perspetivas para uma mesma situação ou acontecimento. Mas lidar com isto é, e foi, complicado. Sendo avassalado por uma torrente de histórias de vida, perceber o que posso contar de forma a fazer justiça a essa história, é complicado. Falamos não só de dramas ou histórias de amor, mas de temas reais como a violência doméstica, exclusão social, pobreza, toxicodependência, orietanção sexual, procura de identidade, o ser jovem, etc. Todos estes temas difíceis, complexos, capazes de serem considerados de “literatura light” mas, na verdade, com um peso tremendo na vida de muitas, mas mesmo muitas, pessoas.
Mas é este desafio que me inspira, sabem? O saber que, com a minha imaginação, a minha formação/educação permitiu-me polir e ganhar uma conceção do mundo que, outrora, não era capaz de ver. E é essa inspiração, de pluralidade de histórias e momentos, que procuro cada vez mais trazer para vocês.
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