Quando soube da existência de blogues, compreendi que, mais cedo ou mais tarde, iria ter um. Anos mais tarde o fascínio e apreço por estes espaços cresceu, mas sendo sincero, algo não mudou desde que entrei neste mundo.

Ao começar um projeto, para além de todo o entusiasmo e excitação, existem medos. No meu caso, e relativamente aos blogues, era o de ficar sem ideias. Ou, em casos concretos e específicos, o de ficar preso a uma linha editorial. É certo que uma rotina tem impactos notórios na nossa qualidade de vida, mas, por vezes, sabe bem simplesmente vaguear por outros caminhos. Por nos permitirmos sonhar e dar, a quem nos lê, algo fora do comum. Neste caso, o inverno.

Sempre gostei de textos soltos. De sentir que tenho um tema banal e o posso levar a onde os meus dedos deixarem. Foi assim, sem surpresa, que ao constatar o frio que me entranha em cada poro do corpo e do conforto de uma garrafa chá (estou a tentar compreender desde quando me tornei numa destas pessoas), que a inspiração surgiu. OK, não foi propriamente a inspiração, mas antes a vontade em aconchegar-vos com estas palavras em dias tão invernais.

Tenho consciência de que a maior parte da população abomina o inverno, mas será que conseguem ver que esta estação tem beleza? O inverno é muito mais que um natal chuvoso ou uma passagem de ano na Avenida dos Aliados com os ossos a gritarem para se ir para casa. O inverno é também a beleza do sol refletido na geada matinal. É o ir a um café e saborear um chocolate quente cremoso que nos invade o espírito e, se tivermos companhia, ainda melhor. É quase como se estivéssemos dentro de um filme em que até a chuva pode cair sobre nós e limpar-nos de qualquer receio. É o ter o abraço de um cobertor num dia de chuva onde um livro nos pode acompanhar. Até a praia tem a sua beleza nesta altura, onde o mar mostra a sua força e agitação antes de nos brindar com as águas calmas, quentes e serenas no verão.

O prazer de sentir o calor de uma bebida quente (Starbucks Gaia)

Temos várias razões para não gostar no inverno. Ou melhor: para não gostar do frio. Sabemos que camisolas térmicas existem, mas se as juntarmos a uma malha e um casaco rapidamente parecemos chouriços andantes. Apesar do desconforto – em especial quando temos pessoas a nosso lado de manga curta e calções -, penso que se torna importante saborear as pequenas coisas e aquilo que este tempo único nos deixa fazer. Ler livros podemos fazer em qualquer altura, mas não sabe melhor quando o fazemos debaixo de uma manta? E chocolate quente?, bebem no verão com o mesmo prazer que numa época fria?

O ódio por cada estação é tão lendário quando elas, mas se pararmos para apreciar cada dia, será que não nos tornamos menos rezingões e passamos a ser mais felizes?

Este texto foi escrito num dia muito frio, onde os meus dedos faziam concorrência aos de um morto, e enquanto ouvia chuva e trovoada pelo Noisli.

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