Esta é daquelas perguntas que faço constantemente, especialmente quando estou na reta final de um manuscrito. Não a faço por ser neurótico, mas pelo significado que tem e que, em suma, significa que a parte divertida terminou, dando lugar a uma mais minuciosa e aborrecida. Porém, nesta publicação, quero apresentar alguns pontos chaves a ter em atenção antes de começarmos a rever o nosso manuscrito. Vamos tornar isto mais divertido?
Afasta-te
Muitas vezes sentia a necessidade de, ao acabar de escrever um manuscrito, o minimizar, ir comer, para depois pegar logo nele desde o início. Isto é um erro. Não só não damos tempo à história para respirar e existir, como nos boicotamos no processo.
Convencemo-nos de que é por ter a história ainda fresca na nossa mente que nos irá ajudar, mas acreditem, é lê-la ao fim de um tempo que vai fazer-nos perceber até que ponto escrevemos tudo como realmente idealizamos. Desta forma, após terminarmos de escrever, nada melhor que nos distanciarmos alguns dias, semanas, da história. Descansar a mente. Refletir tudo e limpar as ideias.
Rotina
Algo bom de fazer antes de se começar a revisão é ter em atenção ao tamanho do manuscrito. Temos algum prazo de entrega? Temos a agenda preenchida com atividade externa à escrita? Torna-se assim importante definir uma hora ou local específico para estarmos à vontade com o nosso manuscrito e de, com o tempo, treinar o cérebro para aceitar este trabalho.
Lê calmamente
É muito fácil cair no erro de, por julgarmos conhecer a nossa história, a ler-mos num abrir e fechar de olhos. Fomos nós que a escrevemos, pelo que conseguimos antever o que vem a seguir a cada palavra. Porém, se estamos a ler o manuscrito antes de este ser enviado para uma editora, o melhor é termos calma e paciência. Sabermos respirar fundo e tentar ler como se fosse a primeira vez. Sermos críticos e ler cada palavra, assimilar cada sinal de pontuação, formatação e momentos da história. Só assim conseguimos corrigir erros que poderiam passar despercebidos.
Boco de notas
A nossa história passa-se num certo espaço de tempo e, se tudo correu bem, todas as datas, eventos e acontecimentos, batem certo. Porém, algo que achei útil em revisões passadas foi a leitura acompanhada por um bloco de notas e caneta. De cada vez que acontecia algo importante, ou era mencionada uma data, apontava o capítulo, data, e evento. Desta forma, detetar incongruências temporais tornou-se bem mais fácil e até divertido, já que conseguia desviar os olhos do ecrã de tempos a tempos. Ajuda também a perceber se o que está escrito tem lógica e coincide com a linha narrativa e temporal que delineámos.
Ler em voz alta
Muitas das vezes não temos a perceção de como uma frase está confusa ou pouco clara. Quando isto acontece, uma leitura em voz alta pode ajudar. Permite-nos não só distanciar, como ouvir as nossas próprias palavras. Soam bem? Fazem sentido? Temos palavras repetidas ou sem sentido? Como estão os nossos advérbios de modo? Temos um texto pobre ou assoberbado com palavras sem sentido?
Detalhes
É fácil quando escrevemos e estamos a ler só darmos conta da narrativa da história e não dos detalhes. Um exemplo disto é quando nos esquecemos de indicar que uma personagem se aproximou de outra, ou de como uma personagem foi de um sítio para o outro ao não existir nenhuma separação temporal ou de espaço evidente. O mesmo para peças de roupa, penteados, estilos, acessórios, estados de espírito, horas, acontecimentos meteorológicos, ou até plantas de espaços. Com isto, se leres em voz alta certas passagens e tiveres a dar ao teu manuscrito a leitura atenta de que merece, será fácil perceber se está tudo certo.
Os beta
Já vos falei como “usarmos” os leitor-beta assim como de lidar com as críticas. Desta forma, na revisão do manuscrito nada melhor que percebermos que dicas/críticas/sugestões vamos utilizar e de como as vamos executar.
A porta de entrada
O primeiro capítulo de um livro, ou prólogo, é o primeiro contacto que o leitor tem com as personagens e sua narrativa. Assim, se toda a trama está terminada, nada como perceber se a nossa porta de entrada está lustrada, polida. Se faz sentido, se permite ao leitor apaixonar-se ou detestar as personagens ou até se o mistério e pistas narrativas estão lá.
Leitura Sugerida: O primeiro capítulo de um livro
A primeira vez não é a última
Acontece pensarmos que uma única leitura atenta chega, mas não acredito nisso. É certo que as editoras têm os seus revisores, mas se queremos fazer boa figura, há que ler com atenção o que escrevemos. É muito comum não darmos por falta de letras em algumas palavras, ou de até palavras sem sentido para a frase. O mesmo para a pontuação. Desta forma, se acabaste a primeira leitura, dá-te novamente espaço para recomeçar tudo de novo. A questão é que desta vez irás apreciar não só a história original, com as correções que fizeste. Isto permite-te perceber se funcionam e se não parecem forçadas.
Recorre a quem mais sabe
Podemos pensar que quem mais sabe da história somos nós, mas isso não é naturalmente verdade. Ao longo dos anos, e com os manuscritos que já avaliei (incluindo os meus), nem sempre se vê como algumas passagems não fazem sentido ou, na verdade, prejudicam a história. É nestes momentos que recorrer a editores e/ou revisores independentes que podemos realmente trabalhar o manuscrito antes de este deslumbrar uma editora. Isto pode parecer estranho ou batota para muitos, mas é comum em mercados como o americano ou britânico, existirem, para além de agentes, editores que trabalham com os autores e que estão desassociados de uma Editora.
Os valores dependem sempre do número de páginas/caracteres, mas é o passo certo se decidirmos publicar um livro.
Espero sinceramente que estas orientações vos ajudem da mesma forma que as fui aprendendo. Mas isto deixa-me com uma questão: como fazem vocês as revisões?
3 thoughts on “Como rever um manuscrito?”