Fui ver a bola e festejar o São João: como um fim de semana me elevou o espírito

Talvez esteja a ser demasiado catártico, mas este fim de semana que passei com a minha querida Sofia Costa Lima fez-me perceber a saudade que sentia de certos estímulos que eu próprio me tinha negado. Não por vontade própria, nem por sadomasoquismo, mas pela forma como deixei que o cansaço de dois anos me fizesse refém.

Sábado

Sétimo dia da semana, conhecido como dia de descanso. Para mim, na verdade, foi como se fosse um dia de recomeço. De abandonar qualquer ideia de trabalho, estágio e relatório a ser escrito, para me obrigar a ir novamente ao ginásio. Não tenho ido, não por falta de vontade, mas por horários incompatíveis durante a semana. Porém, ao deparar-me com um belo sábado sem qualquer obrigação, decidi aproveitar a energia para voltar a fazer algo de que gosto (e pago, verdade seja dita). Esta mudança, por si só, levou-me a sentir renovado e, de forma ridícula, quase mais jovem. Claro que me arrependi da ideia ao subir os dois lanços de escada e ver montes de panfletos enérgicos de atividades promovidas pelo ginásio. Se as imagens cansassem, por cada uma, quase sinónimo de cada degrau subido, teria perdido o equivalente a dez quilos. Mas, uma vez chegado ao primeiro piso, a minha mente focou-se no que queria e apreciei o tempo para mim. Sabia que me iria arrepender desta ida (já vos conto mais sobre o porquê), mas o meu sábado não ficou completo sem fazer algo que, há uns anos, não me veria a fazer.

Sim, fui mesmo ver a bola. Ou melhor, o jogo do Euro

Existe um grande aviso a dizer: “ver a bola” é uma expressão da Sofia. Acontece que me apaixonei tanto pelos regionalismos que ela me ensinou, que não existe expressão mais ligeira e divertida para descrever o nosso encontro em São Bento, que nos levou, a pé, ao Palácio de Cristal, onde um ecrã gigante transmite os jogos da seleção no campeonato europeu (que até há umas semanas pensava que era o Mundial!! Vejam bem o meu estado).

Não vos vou falar do jogo, não sou especialista. Apenas, talvez, para realçar o quanto os nossos jogos são sempre marcados pelo sofrimento e situações caricatas, como o facto de, em dois jogos, dois dos golos terem sido auto-golos. Adoraria continuar a ver esta tendência, sendo que, de preferência, do lado do adversário. Adiante. Tendo como grande preocupação o facto de existirem, ou não, locais para comer, foi com delícia que, após uma multidão animada e uma volta pelos jardins do Palácio, comi uma bifana com a Sofia. Estar ali, naquele ambiente, recordou-me todos os eventos que passei com a minha família. Foi um rebuscar de memórias que, estando no Porto, nem sempre consigo acompanhar. Efeitos da distância, sem dúvida, mas que evidenciam como a saudade assume diversas formas e, sobretudo, se manifesta das maneiras mais inesperadas. Porque, sendo honesto, não se tratava apenas de “ver a bola”, era estar lá, naquele momento único pela localidade, e com uma pessoa especial. Não foi só colmatar a saudade existente, mas remoldá-la e obrigá-la a assumir os contornos de alguém que continua a crescer.

Domingo

Não sou apreciador dos Santos Populares. Percebo a euforia, a mesma que, para mim, é associada ao Natal, visto que, sejamos honestos, a essência é a mesma, tirando os presentes. Para mim, o festejar desta data acontecia pelo vislumbrar do fogo de artifício. Já tinha visto há uns valentes anos, no cais de Gaia, pelo que, indo nesta onda de aproveitar mais o que a cidade me dá e a companhia da Sofia, fui festejar o São João. Entre este acontecimento e ter ido ver a bola, não sei o que mais me surpreendeu. Talvez a quantidade de marteladas que levei e dei? Acho que sim, o que contrastou muito com o meu espírito aquando da minha primeira vez nestes festejos, onde não achava piada nenhuma à tonelada de barulho que perpetuava pela cidade.

Mas este ano foi diferente. O espírito, a pré-disposição e a vontade tornaram a experiência mágica e, mesmo que a celebração seja associada a momentos de convívio familiar e com vizinhos, mesmo estando eu e a Sofia longe das nossas famílias, consegui encontrar com ela o equivalente a isso. E, num cenário digno de um filme da Disney, o vento elevou os tradicionais balões de papel pelo ar e, numa questão de horas, a cidade foi-se iluminando de promessas, de sonhos, aventuras e gargalhadas. É assim que quero recordar e celebrar esta quadra. Torná-la algo vívido e aconchegante para este Diogo que agora surge e cresce. Parece demasiado profundo, mas estou ainda tão embalado no cansaço bom destes dias, que foi o equivalente a um SPA espiritual. Não sei bem que associações está o meu cérebro a fazer nesta altura com cada palavra aqui escrita, mas é um caminho sináptico alegre.

Voltando às minhas pernas

Apesar de o espetáculo pirotécnico ter sofrido alterações em cima da hora, por conta da agitação do rio, o sofrimento para chegar ao Jardim do Morro foi imenso, ao ponto de estarmos 40 minutos para sair do cais. Nisto, íamos sendo martelados, apalpados e saber-se-á mais o quê, já que os portuenses residentes na avenida, apesar do emaranhado de gente, procuravam com dedicação montar uma mesa na rua para conseguirem comer melhor. Não sei como o iriam fazer, mas acredito que tenham estado por umas duas horas para a erguer.

As minhas pernas, nisto tudo, mostraram a sua resistência ao encontrarmos, na Avenida da República, em Gaia, um cenário idêntico ao de um apocalipse zombie, onde hordas de humanos andavam, rastejavam ou, só porque si, se sentavam no chão a comer farturas. Nisto, a alegria de chegar ao carro foi imensa mas, no dia seguinte, se festejava a minha mente rejuvenescida, o mesmo não podia dizer das minhas pobres virilhas, que me faziam ver como o treino de sábado foi demasiado abusado para o que eu suportava no passado.

Se me arrependo? Não, mas está claro que a minha vontade de ir ao ginásio deveria ter surgido noutra altura e que, talvez, por mais entusiasmado que esteja, me deva conter nessa alegria.

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