Descobri a razão da crescente popularidade com o género YA

Quando terminei de ler o livro de Ray Bradbury, “O Zen e a Arte da Escrita”, fiquei atónito comigo mesmo. Poderia mesmo afirmar que revoltado com o meu cérebro holístico, que me falhou. Foi apenas após ler um dos capítulos deste famoso autor, em que ele refletia sobre a adoção da ficção científica nos EUA, que as minhas conexões nervosas redescobriram um novo caminho associativo para a crescente procura por histórias para jovens adultos. Frequentemente mencionadas nas notícias, especialmente pela crescente popularidade destes livros nas redes sociais, que mês após mês impulsionam as vendas no mercado, só agora percebi a verdadeira razão e, honestamente, penso que é uma associação que muitos ainda não fizeram.

As redes sociais como canais de difusão

Quando se fala no aumento de jovens leitores, as associações começam muito pela referência ao TikTok e ao Instagram. A reflexão acaba logo aí, onde se simplesmente se aborda o trabalho destes criadores de conteúdo e de como, associado a capas bonitas, os livros se vão vendendo. Porém, aquilo que me apercebi existir, e em massa, é a capacidade da transmissão da mensagem de um jovem. Se juntarmos a voz de um jovem a outro, então começamos a falar em sentimento de comunidade e uma que, diariamente, se expande. Isto é benéfico, é incrível, mas, honestamente, não revela ainda a verdadeira natureza da popularidade deste género literário. Tudo começa, na verdade, não com os vídeos ou as fotografias, mas com aquilo que elas nos dizem e o que levou estes criadores a lançarem-se nesta aventura: as suas palavras, a sua voz.

Os jovens são ouvidos

Quando a internet chegou, longe se estava de perceber o impacto que teria na vida individual das pessoas e, hoje, percebemos como a mesma impactou a vivência interpessoal de cada um. Com os livros não foi exceção e, atualmente, encontramos livros a serem reeditados, clássicos a serem redescobertos e a novidades estrangeiras chegarem a Portugal a uma velocidade nunca vista. Obviamente que, neste ponto, existe a perícia e estado de alerta dos editores, mas, enquanto antigamente esta audição do mercado era como que lida em bibliotecas, em sucessos comerciais estrangeiros e a sua adaptabilidade para Portugal, hoje, com a internet, os jovens têm um poder novo: o de dizerem, mostrarem e discutirem o que querem, o que gostam. Isto não só possibilitou à emergência de novas temáticas, como à consciencialização de que o mercado tem de mudar nas histórias que chegam agora às livrarias. Que um livro está longe de ser somente avaliado pela qualidade literária, como pela qualidade do que irá acrescentar à vida e crescimento de um jovem. Isto é poderoso e, quando todos os jovens se unem para algo, o resultado é, quase sempre, estrondoso!

O mercado livreiro está, efetivamente, a ser ouvido

Chamam-lhes muitas vezes os sucessos do TikTok e, se é na maior parte das vezes dito com desdém, esta postura demonstra a necessidade contínua de ouvir a população mais jovem e de como temos falhado. Em como um editor, um professor, educador ou até um progenitor, escolhe em cem por cento o que acha que aquele jovem deveria consumir quando, na realidade, deveria existir uma proporção. Isto existe e é visível na censura que algumas escolas ou até pais procuram para os seus filhos. Ao metê-los numa bolha, assistimos aos discursos de que “o meu filho não tem idade” serem replicados com uma frequência que não acompanha o que acontece no mundo real. Os jovens continuam a estar expostos à sua dúvida interna, aos seus gostos, seja alimentar, sejam a nível sexual, até à exposição ao mundo da droga, violência e, enfim, delinquência. Escudá-los excessivamente leva a um descrescimento avassalador que, honestamente, se formos mais longe e juntarmos o tema da inteligência artificial, assusta-me como futuro da sociedade e o seu julgamento crítico, lógico e científico.

Vamos ouvir mais?

O mundo está uma desgraça em termos sociais. Muito provavelmente a minha geração irá navegar pela maior Guerra Fria que há memória na era moderna e uma assustadora por ter a tecnologia bem no centro. Com isto, e esta publicação, custa muito pedir que nos ouçamos mais? Que, se alguém nas redes sociais perde o seu tempo a dizer-nos algo, a vamos ouvir? A, mesmo que diga o maior disparate, em vez de a cancelarmos, procuremos antes ensinar? Nem todas as pessoas conseguem demonstrar querer aprender, mas talvez é uma melhor forma de lidar com o outro do que alimentar o sentimento de ódio que aparece e cresce com a exclusão. Será pedir muito? Não era mais benéfico ficarmos contentes com os jovens que procuram, cada vez mais, ler, quando mais tarde essa vontade os vai fazer levar a descobrir outros géneros?

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