Olá leitores. Como estão?

Espero que bem. Que o vosso mês de agosto tenha sido quente, e vos tenha permitido aproveitar cada hora dos longos dias de verão. O meu assim foi. Especialmente por me deixar meter a leitura em dia da pilha de livros que tenho para ler.

Aliado à leitura, surgem ideias. Ideias como esta que vos estou a apresentar. E que ideia “brilhante” é essa Diogo, que nos queres apresentar?, podem perguntar vocês. Pois bem, és amante da escrita ou tens simplesmente curiosidade no processo de criação de uma história? Tens perguntas que, por vezes, são tudo menos oportunas para um escritor? Ora bem: esta é a rubrica que procuras!

Mensalmente, eu e um conjunto de autores portugueses reuni-mos virtualmente para debater algumas das questões que mais nos afligem no que toca à escrita. Desde ao processo de criação, até àquilo que nos vai na mente quando acabamos de escrever uma história.

Assim, e para dar estreia a estes encontros entre pessoas que nutrem uma paixão sem igual pela escrita, a pergunta que lancei foi:

(tambores)

Já tiveram algum momento em que estava tudo bem encaminhado na escrita, mas do nada, não souberam que direção tomar? O caminho para chegar ao final que tinham em mente? 

 

32418012_846287182233405_8184479263961907200_nA pergunta surgiu do meu desespero face ao livro em que atualmente trabalho. Estava a dar em doido sem saber que passos tomar, sem que parecesse que fosse tudo muito… muito ficcional. Posto isto, a Letícia Brito foi uma das minhas salvadoras: «porque não usas a técnica de Chekhov?». Fiquei absorto. Que raio de técnica é essa? Lá então, a minha amiga e colega autora, dona do blog Minha Querida Isabel, e autora do livro “Nos Braços do Vagaundo“, me respondeu: «basicamente tens de olhar para os detalhes da história. Com uma perspectiva diferente . E perceber que se escreveste um evento, ação ou a presença de um objeto em algum momento da história, é porque isso tem relevância.» E este princípio fez-me de tal forma, sentido, que tive logo uma ideia. O gatilho para provocar aquilo que queria na história e no leitor. A ação certa, visto que o leitor já tinha como que tocado nela, no começo da mesma.

Isto às vezes pode parecer ridículo. Afinal de contas, somos nós que escrevemos a história e temos total controlo sobre ela. Mas aí é que está a questão. Eu pessoalmente sei sempre o meu começo, e o fim. Sei qual será a jornada das personagens. E o porquê de ter acontecido tudo da forma que aconteceu. Todavia, por vezes, ou a nossa vida quotidiana nos rouba parte daquilo que tínhamos em mente, fruto da experiência, ou simplesmente nos perdemos dentro de nós mesmos, com a história que temos diante de nós.

39883153_260517071263984_3493353234074959872_n«Devo ter um problema grave em termos de escrita, porque construo as minhas histórias e enredos à pressão, ou seja, fluem naturalmente. Acontece-me frequentemente, parar de escrever porque tenho outros afazeres, e, do nada, começo a congeminar a continuidade da narrativa. Normalmente é assim, mas, e curiosamente com este romance “O Trilho da Rata Cega”, escrito há uns anos, foi o único, em que decidi reescrever a história, dando-lhe uma volta de quase 360 graus. Ou seja, a minha perspetiva de 2011 (escrita à pressa durante um mês) mudou radicalmente em relação à de 2017Foi logo o que me disse a Paula Araújo. Autora do livro “O Trilho da Rata Cega“, publicado este ano, partilhou aquilo que para mim, é sempre a adrenalina inicial na escrita de um livro. Aquilo que mais compreendo, foi o que disse por último.

É bastante frequente reescrever a história, especialmente após anos sem lhe tocar. Aconteceu-me algo similar com o Esquecido. Porque foi necessário. Deixar, tanto a história como eu, amadurecer. Não falamos aqui de bloqueio de autor. Esse tema ficará para outro encontro, mas sim de algo que acontece quando a história nos levou por um caminho inesperado. E que faz mais sentido face a tudo o que escrevemos anteriormente e vincámos à personalidade das personagens.

«Tenho um final em mente, mas gosto muito da protagonista e à medida que escrevo sinto-me mais tentada a mudar o final porque começo a ter dificuldade em prosseguir. Mas, na minha opinião, isso deve-se ao facto de ter escrito muitas páginas em pouquíssimos dias. Acredito que se der um pouco de tempo à escrita, quando recomeçar conseguirei reencontrar o caminho que me leva ao final que desejo.» Quase que me sinto tentado a dizer “touché” ao comentário que a Letícia depois deu, no seguimento da conversa. Ou seja, vai de encontro ao que os três falámos: o tempo. Se for preciso, deixarmos o documento Word somente no PC, e não levá-lo connosco para todo o lado na nossa memória. É preciso tentar fazer o pino e ver as coisas por uma outra linha de pensamento. Tal como Chekhov disse.

Mas como se resolve depois todo o emaranhado de ideias? «Centrando-me no que é essencial ou mais atrativo para o leitor. Escolhendo o que o prenderá.» Porque é isto que tem de ser feito muitas das vezes, Paula. Exatamente. Sabermos o que é o melhor para a história no seu todo. Deixar que tudo tenha sentido, coerência, e não algo que resulta de um corta e cola de ideias que fomos tendo e simplesmente tivemos medo o suficiente para as descartar ou reformular face ao desespero.

Em desespero espero que não fiquem vocês, e que esta publicação tenha dado algumas ideias quer a quem escreve, ou uma publicação que tenha vos tenha entretido, ao saberem o que se passa na cabeça dos nossos autores!

Não podia deixar de terminar esta publicação sem vos convidar a ingressar na próxima conversa. E como?

Pois bem, se és autor, e queres partilhar as tuas ideias connosco, ou és leitor, e queres ter resposta a algumas das perguntas relacionadas com o processo de escrita ou editorial, envia um e-mail para diogoafsimoes.leitores@outlook.pt e tudo ficará tratado!

Espero por vocês! 😀

Beijos e abraços,

Diogo

 

Um especial agradecimento à Letícia Brito e à Paula Araújo pelo apoio a esta ideia e por darem um bocadinho do seu tempo para esta partilha. Algumas das conversas foram reestruturadas visto terem sido originalmente escritas numa plataforma  online. As autoras expressam igualmente os seus pontos de vista, sem qualquer tipo de influência externa aos mesmos.

 

7 thoughts on “Conversa entre Autores #1 : Quando empancamos

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