Na publicação passada falei dos leitores-beta. Da forma como eles nos podem ajudar no trabalho que estamos a desenvolver na nossa história. Porém, algo de muito importante vem depois disso. Algo que acontece só quando começamos a receber o feedback. Com isto, e como diz o título do post, falo-vos das críticas.
Lidar com as críticas nem sempre é fácil. Passamos tanto tempo na escrita, na pesquisa, a conhecer as nossas personagens, que acreditamos piamente de que está tudo perfeito. OK., pode não estar excelente, mas acreditamos que nada falta. Que não existem incongruências, momentos ou passagens sem sentido, ou até que todas as personagens são perfeitas. Mas ao recebermos uma crítica, quer seja ela positiva ou negativa, aquilo em que acreditamos é posto em causa. Sentimos o chão tremer. Como se todas as horas passadas a pensar e trabalhar, fossem em vão. E é nisto que quero refletir, com algumas dicas do que fui aprendendo ao longo do tempo. Muito por conta do momento pós-publicação. Mas como a Parte II falará exclusivamente disto, vou agora dedicar-me a como podemos lidar com as críticas dos nossos leitores-beta.
1. Conhece a tua história
Parece básico. Mas falo de sabermos qual o seu verdadeiro propósito. Qual a jornada que pensamos para as personagens. A partir do momento que consigamos ver tudo isso com clareza, será fácil compreender as diferentes críticas que possamos receber.
2. Desconstrói as críticas
Estou a usar muito a palavra “crítica”, mas tentem não pensar só no lado negativo da palavra. Na conotação popular. Pensem como opiniões. Desta forma, sempre que recebem uma opinião, não a absorvam logo. Leiam diferentes vezes e procurem perceber o que está o leitor a dizer. Por exemplo: pode acontecer um leitor ficar confuso com certas expressões, ou momentos ou comportamentos no início da obra, muito por conta de que o mistério para eles só se vai resolver no final da história. Se isso é algo apontado por diferentes leitores, porque não usar essa crítica, para esclarecer os leitores e dar presságios, ou até mais momentos claros de suspense?
Não te podes esquecer também dos elementos positivos e das coisas boas. Certifica-te de que tens tudo apontado para compreenderes o que resulta bem, e o que não resulta tão bem.
3. Não absorvas logo tudo
Ao termos estas críticas, podemos ficar tão revoltados por o que idealizarmos não ser o “perfeito”, que absorvermos logo todas as críticas e de uma forma negativa e depreciativa. Pode acontecer mesmo passarmos a olhar para o nosso leitor-beta como alguém que não nos quer bem, ou que quer deitar a nossa obra abaixo. Acreditem, isso já me aconteceu e não é correto transferirmos a nossa revolta para quem nos está a tentar ajudar e dar novas perspectivas. Se forem sempre críticas fundamentadas e exemplificadas, tenho a certeza que refutar as “acusações” ou até as despistar, será facilitado. Se não, revela que é mais um desafio que temos para alimentar a nossa obra com “gordura boa”.
4. Cuidado com as emoções
Como já introduzido nos pontos 2 e 3, é fácil ficarmos com os sentimentos feridos. Tenta fazer uma separação, quer da relação que tens com os leitores-beta, como daquilo que são as suas opiniões e pontos de vista. Lembra-te nestas alturas no porquê de teres pedido opiniões. O objetivo é de tornar a obra melhor, a tua obra. Considera assim como um trabalho. Já se dizia: amigos, amigos, negócios à parte.
5. Pesquisa
Pode parecer redundante face às referências que já fiz a isto, mas muitas das vezes as opiniões que os teus leitores te dão são capazes de te dar novas dimensões e perspetivas de pesquisa. Coisas que até não tinhas pensando em pesquisar antes. Com isto, se tens opiniões referentes a um mistério ou tomada de decisão que não são claros para o leitor, porque não procurar na internet géneros semelhantes ao teu para que vejas qual o padrão seguido?
Com isto posso dar-te um exemplo muito prático: no meu terceiro livro comecei a dá-lo a leitores beta logo no começo. O feedback estava a ser positivo, tirando uma questão: havia uma revelação que era feita demasiado cedo. E por mais que eu, autor, soubesse das coisas, o leitor não. E é nisso que temos de trabalhar. Em conseguir alimentar e até despistar, enganar, o leitor. Isto deu-me vontade de me atirar a ponte, é certo, mas no final resultou numa história cujos momentos de surpresa não eram interrompidos e o desenvolvimento das personagens era explorado da forma acertada. Claro que dá trabalho, porque depois tens de alterar tudo o que já escreveste, mas juro: é divertido e valerá a pena.
6. Nem tudo é válido
Ok! Este é, talvez, dos pontos mais importantes. E porquê? Porque nem todas as críticas que recebem são válidas. É certo não concordar com o ponto de vista de um leitor, ou até com a forma como percecionou certa coisa. A obra é tua e quando lês o feedback, tens de perceber o que é aplicável ou não. Claro que se mais que um leitor apontar a mesma questão, talvez tenhas de te fazer compreender de outra forma, ou de pensar naquele ponto a sério. Mas tudo isto é possível sem teres de ignorar a essência da tua história.
7. O guião é maleável
Lembram-se de vos ter apresentando ideias para um possível guião a dar aos leitores-beta? Pois bem, podes muito bem ir ajustando ou, mais importante, continuar a fazer perguntas após o feedback e sobre ele mesmo. Porque é que o leitor disse aquilo? Porque é que o leitor pensa que aquilo é assim? É por ele ter alguma experiência pessoal que o remete para aquilo, ou foi a história que o levou àquela conclusão e/ou pensamento?
Lidar com opiniões nem sempre é fácil. Quer sejam elas boas ou más, muitas das vezes podem atrapalhar a forma como vemos o nosso trabalho: a escrita. Encontrar o equilíbrio nem sempre é fácil, mas é por isso que cada vez mais procuro por opiniões. Por críticas. Há tanta dimensão num livro que é natural haver alguma menos trabalhada. Se soubermos aceitar a ajudar e opiniões de outros, dizendo sempre obrigado, não só é uma forma de a obra crescer, como nós próprios nos conhecermos.
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