Podem criticar-me pela franqueza, mas estava mesmo no banho quando esta ideia me ocorreu. Quando pensei o quão me poderia voltar a divertir ao criar uma história que desse aos leitores a possibilidade de escolher o trajeto da narrativa. Quem me conhece ao ponto de me ter posto a falar das minhas séries antigas, sabe que fiz duas em que dei a possibilidade de os leitores escolherem entre dois finais. Acontece que tinha um que era o idealizado, mas estava tão divertido naquele ambiente, que queria dar outro igualmente plausível. Os anos passaram, e penso que chegou a altura de me desafiar novamente neste sentido.
“Trajetórias” foi inspirada neste meu passado, como num conceito das Ciências Sociais quanto às próprias trajetórias individuais. As escolhas, os momentos de viragem ou de paragem que temos ao longo das nossas vidas. Quer sejam bons, maus, potenciados por elementos socioculturais, emocionais ou espaciais, eles tocam a todos. Face a isto, aliei um conjunto de reflexões que fui fazendo desde finais de novembro sobre os problemas que os jovens enfrentam. Quer seja desde o stress, a exaustão da vida corrente, ao lidar com pressões sociais ou preconceitos, os nossos jovens lidam hoje com problemas que muitos adultos preferem ignorar ou, muito provavelmente, não conseguem compreender. Os nossos jovens falam pouco, fruto de uma vida online cada vez maior, numa época em que os pais os tiram dos perigos da rua, para aqueles presentes dentro de uma casa: a internet.
O terminar da Universidade é também fator de medo e incerteza, com pressões de pares ou familiares a não compreenderem como está o mercado de trabalho e que mesmo com um, este é precário e impossível de se traduzir numa vida que o jovem queira viver. Ter!
“Trajetórias” surgiu nisto tudo. Mais do que vos mostrar algo escrito, mas sim de ver como certos caminhos nos levam a determinados momentos e ações. Que por mais sombrio que o mundo possa parecer, não estamos sozinhos nesta dor. É preciso falar disto, é preciso consciencializar para estes problemas e de falar da homossexualidade, da pressão social e da possível e provável depressão decorrente disto mesmo. Foram estes os temas que basearam a história destas personagens.
Porém, quando se pensa em escrever ou fazer algo assim, existe algo importantíssimo de se pensar: o passo da história. Tenho de pensar que o leitor irá ler num blog, porque tem de haver clicks para este escolher o que fazer com as decisões das personagens. Mas também tenho de pensar que ler num ecrã pode cansar. Não é confortável. Isto, por si só, leva a outra coisa: ao tamanho. Não posso estar a criar uma história super longa, cheia de escolhas, se o leitor chegar a meio cansado de mudar de página. Também não posso deixar que esta fadiga o impeça de explorar outros ramos da história, por mais idênticos ou diferentes que sejam. E pensar nisto tudo, e concretizar, deu trabalho!
Tive de criar o blog logo em janeiro, após ter anunciado o projeto. Tinha de ter uma ideia visual e de como iria funcionar. Tinha de ser limpo, mas não demasiado. O leitor precisava de saber onde ir, onde carregar e como ler. Após isto, foi trabalhar em cada um dos ramos da história, ler, reler, escrever. Depois disto, foi publicar tudo no blog e confirmar que a ligação onde o leitor iria carregar, é a exata daquele momento. Não pode haver falhas. Afinal de contas há dinâmicas que se mudam, tudo tem de bater certo. Isto implica a que me aperceba dos desafios que existem. De que não posso escrever tudo como quero porque não há tempo. Porque não há espaço. E como a mensagem é o importante, esses momentos tem sim de ser os mais importantes.
A história segue assim duas personagens cujas letras estão evidenciadas no título: a Sara e o Tomás. Os leitores vão ler pelos seus pontos de vista, saltando entre um e outro. Outras personagens aparecem, mas existe uma que tanto pode marcar a trajetória destes indivíduos, como um ponto de viragem, ou não. E é isso que é divertido. O constatar de que as nossas ações têm um impacto na vida do outro, mesmo que desconhecido.
Estou muito animado por vos trazer esta história online, e mal posso esperar para que a leiam neste mês de junho. Até lá esperem novas publicações de apresentação à série.
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