Sempre que tinha a ideia e começava a escrever um manuscrito, nunca pensava no seu propósito ou género literário. Tudo o que me importava era a história. O seu conteúdo. “Tinha valor para mim? Sim? Boa, avançava. Não? Esquece ou volta a repensar. Organiza-te.” Tudo isto passava pela minha cabeça. Porém, à medida que fui crescendo e escrevendo, o tempo que dedico a uma ideia ou manuscrito está muito diferente daquele que dedicava no passado. Existem um conjunto de questões a que me pergunto, quer a mim, como à história.
Todavia, e sabendo o quão competitivo o mercado editorial é, outro tipo de discernimento acaba por ser necessário. Afinal de contas, se escrevemos uma história, ela tem de ter valor. Qual a razão de ir contar algo já existente? Acaba por ser a mítica pergunta e resposta feita aos autores: “- Porque escreves?; – Porque não encontrei o livro que quero ler.”. Mas quando esta pergunta é feita a nós, tendo em vista o público-alvo, em que é que ficamos? A resposta traduz-se no género literário. Mas se são leitores ávidos, devem ter notado como em três anos o mercado se transformou. Não de forma completamente grandiosa, mas sim na sua amplitude. Na forma como acolheu novos géneros, e que géneros…

Escrevi O Bater do Coração e “sabia” que era romance. Havia amor, logo o que mais poderia ser? Quando fui para o Esquecido, havia romance, mas estava muito longe de ser “romance”. Drama? Sim, há drama… Mas a história tem um “grande drama psicológico misturado com ação e romance”. Ou seja, um thriller. Temos diversas palavras para definir algo, e por vezes estamos certos, outras muito enganados. Com esta abertura de mercado – uma que deixa até as bibliotecárias espantadas – como se encaixa o young-adult e o new-adult? Qual a importância? Como é que os meus livros passados e futuros foram e são moldados por isto?

A resposta está, precisamente, quando comecei a ler Colleen Hoover. Fiquei apaixonado pelos seus livros porque eram frescos. Porque eram leves e tocavam em pontos que outros livros com aquele romance não tocaram: no eu. Mas não num “eu” qualquer, mas o “eu do agora”. O meu “eu jovem”. Tocavam no “eu do leitor”. Isto pode parecer complicado de perceber, mas foi neste momento que compreendi como um romance, pode não ser só um romance. E como um drama não é só um drama. Lembro-me que em tempos dizia que gostava de literatura-fantástica porque tinham tudo: o romance, a fantasia, o drama, a ação e até o terror. Porém, ao olhar agora para a leitura que tenho do mundo, compreendo como estes novos géneros são como que a caixa de pandora para os mais jovens e adultos. Porque, reparem: não são somente de géneros que daquilo falo. É das mensagens. Das histórias, cada vez mais necessárias nos dias de hoje.
Os nossos jovens e adultos estão longe, bem longe, de serem iguais aos do passado. As realidades mudaram e os paradigmas também. Os jovens enfrentam desafios e dilemas que os adultos por vezes não compreendem ou não querem compreender. E os próprios “novos adultos” estão diante dilemas e decisões de vida completamente diferenciadoras das gerações passadas. Há preocupações com trabalho, arrendamento ou compra de casa, relações, questões de género, políticas, económicas e sociais. É todo um mundo, e todo um conjunto de faixas etárias sem representação na literatura.

Muitas das vezes não compreendemos o porquê dos jovens não lerem mais. Perguntamo-nos o problema. Eu encontrei a resposta: o problema está que por décadas, um jovem passava de literatura juvenil, para o romance, para o drama, thriller, fantástico. Em algum momento, o jovem tinha um “jovem-adulto” ou “novo-adulto” para se compreender e para fazer a ponte entre todos os outros géneros. E claro que me incluo aqui. Como adorava ter tido na minha adolescência uma história que falasse do difícil que é o crescer e dos problemas sociais e morais crescentes deste ciclo de vida. Como adorava ter como refletir sobre problemas como as primeiras paixões, violência doméstica, violência no namoro, homossexualidade, imigração, sem-abrigos, sexo. Como adorava ter tido esta consciência literária por parte de autores e editores. Eu penso é que, contudo, um grande problema reside no ponto em que as editoras apostam nestes livros por estes mesmos temas, em especial o último. Quero dizer, tenho lido romances bons, mas cujas personagens têm faixas etárias de “novos-adultos” e a lidar com questões bem sérias, mas como o sexo mascara isso tudo, qual a categoria que uma editora/autor coloca esta história? No romance-erótico. E é assim. Como se fosse tudo preto e branco e uma grande porção de leitores fosse ignorada.
Disse-vos que quando escrevi O Bater do Coração, o julgava romance. Hoje, percebo o como estava enganado. O como a história da protagonista que procura compreender quem é, e de lidar com questões morais e sociais relativamente às relações familiares, é na verdade um livro “jovem-adulto”. E como estes géneros, cuja proliferação no mercado (traduções, claro) tem sido enorme, são importantes. São a ponte de um jovem leitor para todo um outro mundo de escolhas. De géneros identificativos de si e do que quer enquanto leitor. Mas como será que fico eu, enquanto autor?
Claro que aqui só posso falar por mim, mas estando licenciado em Serviço Social, olho para estes géneros como um tesouro de intervenção a ser aproveitado. Já vos falei da importância do imaginar, da empatia a sentir pelo outro. Por compreender que há diferentes pontos de vista na mesma história. E como autor e conhecedor de diversas histórias verídicas e conhecimento teórico, tenho um enorme prazer em aliar a ficção. Algo que sem dúvida marcará imenso a minha próxima história e moldou o Trajetórias.

Estes dois “novos” géneros têm sem dúvida públicos bem definidos, mas é qualquer leitor que os pode descobrir. Da mesma forma que nem todos os jovens passam por eles. Eu sem dúvida que não fui um exemplo disso, ao passar de livros do plano curricular para a literatura fantástica e nesse mundo passar toda a adolescência. Mas num mundo literário rico em diversos contributos, penso que se torna necessário refletir o que são estes géneros, qual a sua importância e de como autores e editores podem fazer a diferença em dar aos leitores escolha e a possibilidade de se sentirem identificados com personagens e histórias “terra-a-terra”. Dois géneros que têm sem dúvida um grande potencial e, infelizmente, um grande buraco, especialmente daquilo que é, de facto, escrito e publicado em português de Portugal.
E vocês? Como acompanham estes géneros? Qual a perceção que têm deles?
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