Ao longo das últimas semanas tenho dado conta de como alguns autores se deparam, após escrever os seus livros, de reconhecer que existem outros livros no mercado que já abordam aqueles temas, problemáticas, cenários, situações e por aí fora. Isto levou-me a pensar em algo que me debrucei imenso na licenciatura e agora, de certa forma, transporto para a literatura por meio do trabalho que vou fazendo neste meio.
O que faço antes de escrever um manuscrito?
Pesquisa, pesquisa, pesquisa. Não, não é pesquisar o tema ou a definição de conceitos que me possam ajudar a desenvolver determinado conceito médico, fantástico, legal, etc. na história. É antes um reconhecimento do que autores têm feito no campo: quer em Portugal, quer no estrangeiro.
Como?
Responder ao “como” não é propriamente fácil. Não temos tempo para ler ou explorar tudo. Não conseguimos sequer chegar aos milhares de milhões de ideias existentes nas brilhantes mentes humanas, mas o que mais faço é não só o básico de ler o que tenho do género e me fez comprar por isso mesmo, como olhar para os tops de venda: quer das livrarias, como do Goodreads ou Kobo.
Começar por ler o que está publicado em Portugal pode ser um bom ponto de partida, mesmo que não esteja diretamente ligado ao género que gostamos ou estamos a escrever.
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Como devem imaginar, há muita coisa que fica de fora. Muito livro e ideia boa. Mas é uma forma de utilizar os recursos que temos com o tempo que dispomos.
Mas porquê?
O porquê é de extrema importância, já que o que vamos procurar é tentar ser diferentes e ir “mais além”. Ir por caminhos que um outro autor não explorou ou, até mesmo, com personagens completamente diferentes, mas até nas mesmas situações. É o sabermos fazer um estudo de mercado e perceber se estamos, de facto, a acrescentar algo de importante a ele.
Mas não devíamos escrever o que queremos? Ter essa liberdade?
Sim. Temos o direito e dever de escrever o que queremos. Temos igualmente a liberdade para tal, mas temos de ser realistas: as editoras, numa altura em que publicam muito pouco do que é lusófono, são atraídas pelo diferente, mas consolidado em Portugal. Isto é: pegarmos num género popular ou com público, e trabalhar nele de forma diferente e única face aos autores cá publicados. Só assim, acredito, se torna exequível os próprios leitores ficarem interessados na obra pela sua singularidade e não porque é “parecida à obra X ou Y”.
Ser “igual”, mas “diferente”
Somos todos diferentes, mas somos todos iguais na forma como vamos obter as nossas ideias: na vida, na música, literatura e sétima arte. Somos produtores de ideias por meio da bricolage que fazemos do que já existe. Porém, perante o entusiasmo, nem sempre paramos para perceber se as nossas ideias são únicas ou, pelo menos, diferentes. Sabendo nós que somos iguais, e que vamos seguir caminhos já explorados por outros, o ser diferente é o que custa. Mas isto custa a mim, como a ti e a qualquer outro autor.
Acreditar na nossa ideia torna-se chave para conseguirmos saber qual o caminho que vamos seguir, mas acredito vivamente que é por ouvir também os outros – leitores-beta, mercado, conhecidos -, que podemos construir algo verdadeiramente único e novo.
O que mais ajuda?
Estando focado no género YA, o que mais me ajuda é o perceber as problemáticas atuais. Ler as notícias mais recentes, quer do âmbito escolar, como social e psicológico. Alguns livros técnicos também podem ajudar a alinhavar algumas ideias e a que, mesmo que a história que esteja a escrever tenha semelhança com outras, possa eu seguir um caminho mais verídico.
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