Hoje celebramos o 25 de abril, o dia mais importante que temos num ano civil. Uma lembrança histórica de algo a não repetir. De momentos aterradores e que nos permitiram, e permitem, caminhar para uma sociedade melhor. Porém, e à luz deste dia, não podia deixar de perguntar-me: será que um escritor é livre? Será que eu, enquanto autor, me sinto livre?
Não!
As palavras são dos veículos mais poderosos que temos. É assustador o que podem fazer e nem sempre temos consciência de tal. Sei que podemos escrever o que quisermos, mas também sei que não é propriamente assim.
Na literatura
Sei de autores que ao escrever tudo, e criar representação nas suas histórias, tiveram Editores a bloquear essas passagens nos manuscritos. Não só em livros, mas não é também segredo como diversos argumentistas encontram diversas vezes entraves das emissoras ou editores-chefes em bloquear personagens homossexuais, transgénero ou até mesmo mulheres como protagonista. Além mais, o de mesmo após um trabalho estar publicado, como o leitor julga facilmente algo pelo trabalho que o autor teve em aliar a ficção à realidade. Não é assim difícil de falar de filmes com temas bíblicos serem, muitas das vezes, enxovalhados nas redes sociais, ou até mesmo do meu livro Esquecido, em que alguns leitores recusaram a ideia de perdão. Que isso era mentira quando, na verdade, sabemos como o perdão humano ultrapassa barreiras inimagináveis.
Isto é triste, preocupante. Mas ainda acontece. Tenho igualmente plena consciência que mesmo que as Editoras estejam ainda mais liberais, chegar a grandes Editoras e com temas tão fraturantes pode ser uma porta fechada.
Enquanto autor, sinto-me livre, mas tenho consciência de que existem balizas. Quer sejam impostas pelo mercado, sociedade, eventuais Editores ou, até mesmo, por medos próprios, sei que nem sempre vou a onde quero ir. Isto está a mudar – e exemplo disso é o meu último livro e o que atualmente escrevo – mas sei que só agora estou “a começar”. Um começar tarde e que nunca deveria de ter existido. Nunca deveremos ter medo do que escrevemos.
Serei refém? Sei que já fui, e digo-vos: não quero mais ser!
Na sociedade
Claro que estes medos também tocam na mítica questão do “politicamente correto”. Bem sabemos como este jogo é jogado por muitos – mesmo por nós -, mas é igualmente algo que nos bloqueia na hora H. Naquela em que procuramos ter voz escrita e, nem sempre, o poderemos fazer.
Claro que o saber como fazer é chave-de-ouro, mas esta liberdade para jogar com todas as palavras e imaginação não nasce connosco. É antes um resultado da socialização por que passamos e que, de muitas formas, nos bloqueia se não tivermos consciência da sua existência.