Nós, autores, costumamos lamentar o quão horripilante é publicar em Portugal. Na verdade, é uma crítica que é feita tanta vez, que são diversos os artigos que chegaram por inspiração ao blogue só de ouvir outros colegas autores. O meu próprio processo de publicação já foi complicado. Uma desilusão autêntica. Mas, honestamente, hoje aceitei-o. E porquê? Porque algo de magnífico acontece a cada publicação e, enquanto autor, admito que, por vezes, se torna difícil de o ver.

É certo que isto nasce de uma certa utopia ou até, se me perdoem, sonhos elevados ao expoente. Mas, quando o processo de publicação é tão desgastante e, por vezes, negativo, e onde a nossa auto-estima, imaginação, imagem, identidade e trabalho são postos à prova (e debaixo de fogo, numa noite de inverno gelada e de mãos e pés atados como se fóssemos criaturas estranhas a morrer na fogueira), acredito que MERECEMOS CADA CENTELHA DE RECONHECIMENTO e de alegria de todas estas situações. Somos humanos e empáticos, é normal. Mas é no meio deste novelo de lã pegajoso mas brilhante, que algo nos escapa…

Poderia dizer que são precisos binóculos mas, na verdade, são precisos microscópicos potentes para conseguirmos compreender e aceitar que um livro, dando trabalho, nos dá grandes alegrias. Muitos autores podem não se contentar com o livro publicado, mas há muito mais do que o ato de publicar por uma “editora”. Do que vos falo? Da visibilidade que o livro poderá perpetuar no tempo.

Do que raio estou a falar, perguntam vocês. Pois bem, falo daquilo que acontece quando o livro sai da editora e chega aos pontos de vendas. Sim, eu sei que nem sempre veremos o livro em todas as livrarias ou em algum destaque, mas existe algo que nos esquecemos neste processo. Esquecemos que, efetivamente, publicámos um livro. E isso, meus caros autores, é um feito pelo qual devemos ter orgulho. Um acontecimento que se foi realmente bem trabalhado – desde o possível à publicação até a uma edição e revisão de excelência mínima -, poderá levar a que mesmo que as vendas não sejam estonteantes, em algum tempo (semanas, meses, anos), o reconhecimento desse trabalho chegará.

O passa-palavra tem, em muitos casos, um peso grandioso. Mas, nos dias de hoje, onde as redes sociais ditam o share de um livro (e autor), nunca sabemos quem realmente nos está a ver. E, a qualquer momento, uma proposta pode bater aos nossos pés. Ou até, algo muito comum, é um segundo ou terceiro trabalho nosso publicado vir dar uma nova oportunidade ao/s livro/s passado/s.

Vou dar-vos um exemplo claro como a água. O bater do coração, o meu primeiro livro, vendeu bastante. Na altura tive de comprar diversos exemplares e tive a sorte oportunidade de conseguir vendê-los ao longo dos meses em feiras literárias e eventos. As vendas online foram sempre muito parcas, mas “vendeu bem para um primeiro”1. Admito isso. O meu segundo, o Esquecido, foi algo diferente e, para ser honesto, a culpa foi também minha: quer em desleixo de me mobilizar em marketing, como em alguns eventos que não aconteceram. Independentemente disso, o facto de ter demorado tantos anos a publicar (4 anos) ditou algum do destino do livro. Estou orgulhoso dele e a minha Editora sempre me apoiou e acreditou na história. Algo que também retiro. Acontece que, infelizmente, nem sempre o mercado está recetivo a determinados ingredientes narrativos. Todavia, neste meu terceiro livro a história é diferente. Com vendas mensais e com share nas redes sociais que dura desde que foi publicado (13 meses), O que nos Magoa veio despertar o interesse nos meus livros passados. Não se registou nenhum pico de interesse, mas aconteceu!, e novas críticas e vendas vão surgindo por um passa a palavra do qual eu já não tenho qualquer controlo. E isto, autores, isto é a magia dos livros.

Mas e as vendas? E as críticas?

Sim, têm razão. Nem sempre estes dois fatores, como referi, acompanham. Mas temos de conseguir ver o quadro maior. O livro pode ficar a acumular pó, podemos ter poucas críticas, mas isso não quer dizer que está tudo perdido e o nosso tempo a escrever foi um desperdício de tempo.

Um livro é um bilhete mágico que, ansiosamente, espera pela sua oportunidade. Bem sei que num mundo rápido e movido por contratos editoriais e novidades semanais, a nossa história pode ficar esquecida. Porém, é nestes momentos que um apoio reforçado da editora pode aparecer, em leitores começarem inesperadamente a falar connosco ou até, em alguns casos, ter novas editoras a demonstrar que nos estão a acompanhar e atentas ao trabalho que estamos a desenvolver.

Um livro é um marco

Sei que estou extremamente efusivo nesta publicação. Otimista até, e admito que me chamem de irrealista, mas isto acontece. Não é segredo que alguns dos últimos livros publicados venham por conta do passa-palavra, pelo share, por números elevados em plataformas de publicação gratuita ou, até mesmo, de números sólidos de vendas em e-book pela Amazon Kindle ou Kobo. Se isto acontece, porque não podemos acreditar que o mesmo nos aconteça?

(1) – A interpretação do sucesso comercial varia. Temos diversos fatores dos quais nos podemos debruçar, desde o gerar lucro a uma editora, não ter grande prejuízo, ou assegurar um futuro livro. Infelizmente, sabemos como a Chiado Editora, ou melhor: a Chiado Books, é das maiores Vanity que existe, pelo que esta teve lucro logo no momento de assinatura do contrato. Desta forma, ao indicar que o livro teve sucesso, recorro a uma variável que, por vezes, é esquecida: o facto de ter publicado sem qualquer apoio ou conhecimento de marketing na altura e por ter sido, efetivamente o meu primeiro livro. Se aliarmos isto a ter conseguido vender todos os exemplares, tenho de assumir que foi um bom trabalho. Que o passa-palavra teve também um bom impacto.

5 thoughts on “Os nossos livros valem a pena!

  1. Post interessante, Diogo. Concordo. Devemos manter a forte determinação de que nossas decisões e ações valem a pena. Essa certeza se traduz em força e perseverança para enfrentar os obstáculos, os ‘naysayers’ e mesmo os dias de desânimo.

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