Foi no ano passado que decidi levar uma das minhas ideias para a frente. Qual? A de inquirir os autores interessados a respeito dos custos que estes tiveram. Um inquérito que fosse um bocadinho mais além da questão de Direitos de Autor e da estúpida batalha de Editoras Vanity ou Tradicionais, e que mostrasse a satisfação dos autores.
Os meses passaram e, com 39 respostas, decidi estar na altura de revelar os dados obtidos e refletir nos mesmos.
A Editora
Penso que facilita agregar estes dados por diferentes tópicos e o editorial tem de ser o primeiro. No início deste inquérito levado a cabo na plataforma Google Forms, podemos verificar que a grande maioria dos autores mostraram satisfação com o contrato. Correspondendo esse valor a 18 autores, somos confrontados com 11 autores que não gostaram do seu contrato, mas o assinaram, contra 6 que conseguiram encontrar um meio-termo e um editor que escutasse. Apesar de, neste inquérito, ter sido uma minoria, foi interessante encontrar três autores que publicaram de forma independente. Algo que, sem dúvida, impacta resultados futuros.
Já refleti por muitas vezes como os contratos editoriais são perigosos, por vezes ambíguos e sem qualquer fundamento. O certo é que, após o final do inquérito, voltei a questionar os participantes se após todo o processo, continuavam satisfeitos com as suas editoras. As respostas foram… interessantes.
Com uma divisão igualitária, revelou-se uma maior definição na forma como o autor olha para um contrato após todo o trabalho tido. E, quer este trabalho tenha sido exclusivamente da editora, do autor, ou de ambos, o certo é que a publicação de um livro transforma a visão do autor. Um transformar que toca diferentes esferas e que vos irei agora mesmo apresentar.
Money, Money, Money
Não, não vou cantar ABBA, mas bem que podia. Porquê? Bem, os dados falam por si.
Não querendo segregar autores ao não questionar que método de publicação utilizaram, estas respostas podem levar-nos a pensamentos distintos como o facto de 7 autores não terem pago para editar. Algo que pode ter acontecido pela negociação com a editora e/ou um acreditar da editora no autor, ou até de um outro tipo de acordo. Exemplo? Bem, um autor, se acordado por ambas as partes, pode ter negociado prescindir dos seus Direitos de Autor até ter paga a edição.
Independentemente destas ilações, podemos retirar dos dados brutos como publicar um livro em Portugal é algo extremamente, mas extremamente, caro. Numa altura onde o salário mínimo não chega perto dos 700€, só um dos autores inquiridos pagou menos de 400€ para ver o seu trabalho editado. Um custo que não é isolado, já que existem autores que pagam para alguém rever o seu manuscrito.
E, mesmo que 16 autores tenham indicado ter custos mais baixos numa revisão independente, se juntarmos qualquer nota a um valor de publicação acima dos 100€, temos custos totais dispendiosos.
Isto é, um autor, e em média, facilmente consegue gastar cerca de 2000€ para publicar e editar o seu livro. Um trabalho que, em muitos casos, é de longos meses ou anos. A meu ver, valores destes não seriam “tão problemáticos” se um livro, em Portugal, não tivesse um tempo de vida tão curto, ou se o mercado editorial tivesse disposto a absorver estes exemplares no circuito comercial e de marketing. Infelizmente, como sabemos, isso não acontece. Na verdade, isto é só a ponta do icebergue.
O Depois da Publicação
Um livro, sem marketing, não sobrevive. É cada vez mais o autor, após a publicação, que assegura o “passa a palavra” e que visa que o seu livro não seja esquecido. Num mercado onde são publicados mais livros do que aqueles que são lidos, investir torna-se obrigatório. Algo que tanto pode ficar a exclusivo encargo da editora, do autor ou, em quase todos os casos, de ambos. No caso destes autores, estes assumem ter sido a editora a maior responsável pelo marketing. Agora, o que se retém disto é que, mesmo que se tenha investido na publicidade conjunta com a editora, no gráfico seguinte os autores admitiram que acabaram por gastar do próprio bolso no que toca à promoção.
O certo é que, quer um autor pague mais, ou menos, pela sua publicação e/ou edição, os custos de marketing podem ser gigantescos, em que grande parte dos autores investe ativamente na promoção dos seus livros. Temos ainda de acrescentar os gastos de deslocações, alojamento ou alimentação, onde os autores gastam mais de 30€ para ir para um evento literário.
Direitos de Autor
Se aliarmos estes custos à maioria de autores que recebe 10% por cada livro vendido, conseguimos compreender como, mesmo que o mesmo venda os exemplares que compra, o esforço para ganhar algo significativo e que pague tudo, torna-se uma tarefa difícil.
Trinta dos autores inquiridos tiveram de comprar exemplares, sendo que a maior parte dos inquiridos refere mais de 50 exemplares e menos de 100.

O mercado, momento, género e investimento são fatores que influenciam as vendas próprias, bem como do alcance do autor junto da sua comunidade. E, apesar de 22 autores terem conseguido vender, pelo menos, metade dos exemplares comprados, os restantes 10 autores tiveram experiências diferentes. Acresce ainda o facto de um dos autores ter tido a necessidade de comprar mais exemplares à editora, mesmo que por um preço abaixo do PVP do livro.
Existe lucro?
A maioria dos autores inquiridos confessou não ter tido lucros (14), onde 12 dos mesmos admitiram que, mesmo com as restantes despesas, conseguiram lucrar com o processo, com o seu trabalho. Em oposto, e se somarmos o setor azul e vermelho, chegamos à conclusão que precisamente 12 autores tiveram lucro, estando este associado à necessidade de cobrir as despesas tidas.
O quer tudo isto dizer?
Bem, várias coisas. A primeira é que, num mundo onde as redes sociais potenciam a oferta de livros, isso é algo que sai deveras dispendioso para o autor. Não obstante, mesmo que um autor tenha tido lucro ou a capacidade de pagar os seus investimentos, isto acontece pela necessidade que o autor tem em escoar o seu stock. Isto é: de vender os livros que o mesmo comprou.
Vender ou dar os exemplares que temos pode ser uma boa ferramenta de trabalho ou de criar um ciclo de faturação que permita aplicar esse retorno em publicidade. Contudo, se for uma editora “a sério”, o importante para o autor será sempre a sua capacidade de escoar o stock da editora. De vender a sua edição. Se pensarmos nisto, aliado ao que o autor investiu, quer aos Direitos de Autor que recebe por livro, obtemos um retorno quase invisível para todo o trabalho tido.
É certo que publicar um livro é, por si só, a grande recompensa. Mas, quando falamos de valores de publicação que ultrapassam os 1000€, acredito que seja precisa uma outra visão. Além do mais, os Direitos de um Autor baseiam-se numa fórmula onde se retira ao PVP do livro o valor do IVA e eventual comissão de loja e/ou uma campanha promocional. Isto é, um autor, para um livro a 16€ e com uma percentagem de Direitos de Autor a 12%, tanto pode ganhar 1,03€ por uma compra na Wook, como 1,81€ se o leitor comprar pelo site da editora. Se o leitor comprador aproveitar uma campanha publicitária de, digamos, 40%, isso pode render ao autor somente 0,11€.

Tudo isto gera revolta ao autor que está, muitas vezes, na corda bamba e sem saber que caminho seguir. Porque, quer exista uma editora ou uma edição de autor, torna-se facilmente esquecível para os leitores que um livro dá trabalho. Um trabalho que vem com custos que nem eu me lembrei e com situações e peculiaridades únicas de cada autor:
- Marcadores. Mandei fazer numa gráfica e paguei do meu bolso.
- O meu caso é muito particular, uma vez que não vivo em Portugal. Os meus custos de deslocação têm mais a ver com cada vez que vou a Portugal para tentar vender, e consequentemente enviar os livros, porque não há muita gente interessada em comprar pela Wook. Não tive de comprar nenhum livro estipulado pela editora, mas também ofereci quase 20 exemplares só este ano.
- Custos de envio, ISBN, direitos de autor.
- Deslocação para colocar em livrarias.
- Infelizmente não penso que seja uma editora. Simplesmente uma impressora que procura ter trabalho!
- Sim, o valor a alcançar para o próximo lançamento.
- Lançamento da obra.
- Três devoluções porque o livro estava mal colado e desmembrou-se.
Ao peso monetário acrescentamos assim o psicológico, onde as expetativas rapidamente são defraudadas e onde rapidamente o autor pensa em desistir. A própria oferta de livros pode levar a que alguns leitores ou contas literárias se aproveitem da tentativa do autor criar alguma comunidade para o extorquir no seu sonho e trabalho. E, mesmo que o autor venda os exemplares que adquiriu, o mesmo nem sempre conseguirá, por meio dos Direitos de Autor de vendas pela Editora e/ou canais de distribuição, ter algum retorno significativo e que traduza todo trabalho feito.
Um artigo muito pertinente, Diogo! Penso que é cada vez mais importante falarmos destes temas. Muitos autores portugueses têm de fazer um esforço titânico para serem ouvidos e conquistarem um pouco de visibilidade no actual mercado…
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Uma vergonha só te responder agora, Ana, mas é muito verdade.
Há um grande esforço, quer financeiro, quer psicológico, e nem sempre existe consciência do mesmo.
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Interessante seria calcular este números por editora, pois não devem portar-se todas da mesma forma.
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