Escrevo isto enquanto caminho para os já seis mil passos desta manhã. Um objetivo como tantos outros e que me deixa a pensar no poder do pensamento e força de vontade. Confesso que nesta matéria de passos há muito que deixei de colocar objetivos, não por preguiça, mas por atingir, quase que diariamente, os 10.000. O certo é que noutros pontos da vida a definição de objetivos e formas de me motivar acabam por, cada vez mais, ser fundamental.

Estarmos motivados na escrita

Falava há umas semanas com colegas autores de como muitos, no panorama atual literário, acabam por desistir. E, quer seja uma decisão definitiva, quer uma que altera anos depois quando “certas condições forem diferentes”, dou por mim a pensar o que me motiva a escrever e que estratégias eu próprio adotei para permanecer motivado.

No início a minha visão era idílica. Ia publicar pela Chiado Editora, conseguir ter o meu livro comprado por diversos leitores no Brasil (por ser um país maior e com maiores índices de leitura) para, posteriormente, começar a ser conhecido pelo meu trabalho e com as minhas histórias a serem apreciadas. Esta ilusão, com os meus 18 anos, era gigante. Equiparada a eu, em criança, e como acreditava no pai Natal e ter descoberto, posteriormente, que não existia. O certo é que uma traição, uma morte, um desgosto, podem ser emoções deveras poderosas, mas a falsa expetativa também, especialmente quando ligada a um sonho estruturante.

Falar disto leva-me a pensar ser protagonista no filme Inside Out, da Disney, mas é ao mesmo tempo a constatação de que, para estar aqui, dez anos depois de assinar contrato (deuses, já dez anos?), foi precisa muita motivação. Foi preciso perceber que o meu grande amor era só um e o outro vinha por acréscimo.

Eu tenho dois amores?

A escrita será sempre a minha paixão. Não é só o escrever, sabem? É perceber como começo a ser mais crítico com ela. Com o que conto. O seu propósito e como posso impressionar os leitores com isso e por meio de questões sociais. O certo é que a escrita trouxe outro amor: a publicação. Poderia refletir que o fazia por vaidade, mas uma vez que sempre que alguém fala do assunto contenho-me e é extremamente raro apresentar-me como “escritor”, sei que a publicação, para mim, surge como vontade de partilhar a minha história e de perceber o que mais pessoas pensam dela.

Isto parece bonito. Creio até, desde há uns anos, que ser editor deve ser das coisas mais maravilhosas que existem. Todavia, quando o mercado e muitas “editoras” destroem, não o sonho dos autores, mas do potencial das suas obras, ter vontade para escrever nem sempre é fácil. E, se antes tinha dois amores, agora talvez me agarre somente àquele que me dá realmente alimento: a escrita.

A escrita tem de perdurar sempre

Eu já quis desistir. Lembro-me que após publicar o Dislike, o meu pensamento era: se não arranjar um contrato substancialmente melhor, e com pessoas comprometidas, então deixaria a publicação em formato de livro. Sim, foi precisamente o que pensei. Sabia que poderia ir por outras vias, mas a minha vontade era essa. A de saber valorizar a minha dedicação e trabalho. O de perceber que se o que me é importante é a escrita e de passar as histórias que crio na cabeça para o papel, esse “resto” será secundário. Foi nisso que me foquei e não poderia estar mais feliz.

Perceber isto nem sempre é fácil, mas se gostamos realmente de escrever, ao ponto da ausência da atividade nos causa desconforto, então não existe não que nos deite abaixo. Pode ser algo fácil de se dizer, mas a escrita é, e será sempre, algo solitário. É uma visão triste, mas que nos demonstra o poder da auto-motivação e a resiliência que temos na persecução deste sonho. Com este trabalho, melhores oportunidades irão existir e, quer sejam num a cinco anos, sabemos que fizemos realmente o nosso melhor.

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