Pensar faz parte de nós. É difícil deixar de o fazer. Já o tentei inúmeras vezes e, quer tenha sido enquanto tento adormecer ou simplesmente quando tenho alguém em cima de mim enquanto recebo uma massagem tailandesa, nunca consegui silenciar a mente. Também não é isso que venho aqui ensinar, está claro — ia falhar, bastante —, mas de como me tenho surpreendido ao tomar decisões que muitos veem como ousadas ou injustificadas.

Julho foi um mês de mudança para mim e para o meu futuro

Estou a viver em Vila Nova de Gaia há praticamente cinco anos. O ano passado consegui comprar casa e, desde logo, a comprometer-me a uma prestação, seguros, condomínio e tudo o que a vida adulta nos brinda quando tal decisão é tomada. É um prazer enorme ter um espaço meu, ainda mais quando tenho um trabalho que gosto. Podia ficar assim, a escrever para os meus livros, para o site de tecnologia do qual faço parte enquanto me desdobro entre trabalho, ir ao ginásio e ir a Leiria visitar a família. Isto consegue ser esgotante, mas ao ver as notícias e a realidade que o mundo atravessa, rapidamente me apercebo que quero mais.

Se o ano passado, antes de publicar o Dislike, recorri a uma pessoa externa para rever e editar o meu livro antes de ser publicado para elevar o máximo de mim naquele momento (porque mais livros surgirão e cada um, por si só, é um marco distinto), este ano senti que precisava de fazer isto na minha vida. Não de ter uma pessoa externa “a melhorar-me”, mas antes em arranjar coragem em mim para melhorar as minhas competências e hipóteses num mundo em transformação profunda. Foi nesta altura que decidi que iria, realmente, voltar a estudar.

Vou voltar a estudar

Esta decisão não foi pensada durante meses. Não elaborei dissertações sobre o tema nem li artigos jornalísticos sobre o assunto. Todavia, tal decisão só foi possível ao saber do apoio dos meus pais. Isto, sim, foi a chave para desbloquear o que será a minha nova vida por, espero, os dois anos do curso.

Sinto que preciso de fazer um grande parênteses aqui e explicar o porquê de ser importante o apoio dos meus pais. Acontece que a psicologia tem um conceito deveras interessante/importante/validado de como os pais são elementos continentais para os filhos. Isto é: são capazes de se estabelecerem (como um continente) de forma independente para que os filhos, sabendo que os pais não vão a lado nenhum e estarão lá para quando errarem, voarem, serem independentes e tornarem-se pessoas funcionais de forma saudável. E é esta certeza na minha base de apoio que me permitiu aventurar neste caminho. Em, tendo esta certeza, candidatar-me, ser aceite e matricular-me.

Ter este sentimento tão presente em mim é o que me permite aceitar como a minha vida acabará por mudar um bocadinho. Quer dizer, vida pode ser muito brusco: a minha rotina irá mudar. E, se antigamente esta mudança trazia receios, o facto de ensinar aos jovens com quem trabalho que a mudança faz parte do processo de crescimento, hoje sinto-me em paz com isto.

Devemos incentivar a mudança e deixar de bloquear os outros

Sabem aquele ditado popular global do “agora ninguém quer trabalhar” ou “os jovens agora não fazem nada”? Pois bem, não só isto não é algo do “agora”, como advém de quem não percebe o que se está a pedir atualmente. Não é o não se querer trabalhar, é o procurar, cada vez mais, condições de vida que nos deixem trabalhar para viver e não viver para trabalhar. É o constar que há direitos que não se têm respeitado nestas décadas e, há medida que conhecemos mais de nós e do que é realmente uma boa produtividade, começamos a pensar na felicidade das pessoas. Mesmo que não estejam diretamente ligadas a nós.

Estas mudanças não deveriam requerer grandes debates filosóficos porque pessoas mais felizes serão sempre melhores no que fazem, mas tendemos a bloquear isso. E, bem, eu não me quis bloquear mais. Na verdade, no mesmo mês, até rompi o meu contrato com a Vodafone e olhem, mudei para a NOS para experimentar outra coisa. Ou até quando, simplesmente, decidi retirar todos os meus livros do mercado. Para começar a pensar no que me beneficia a longo prazo e sentir que tenho esta escolha. Que este direito, existindo, deve sempre ser usado. Que, em muitas das vezes, irmos de cabeça pode surtir os efeitos mais inesperados e bonitos na nossa vida.

Claro que temos de pensar. Sou mentiroso se não disser que, à medida que escrevo estas palavras, não estou a pensar nelas. Mas…, mas temos de nos deixar de “mas”. Temos de incentivar os outros. De lutar por uma sociedade que atende à felicidade dos outros porque não vivemos sem essas mesmas pessoas. Claro que “não pensar” não significa “não sentir” ou “sermos cegos”, mas sabia que tinha de começar a lidar com eventuais medos e inseguranças depois do arriscar. E sabem? Estou agora mais entusiasmado do que nunca. Mesmo que isto me assuste para caraças!

2 thoughts on “A lógica inexplicável de não se pensar muito

  1. É preciso mesmo lidar com o desconhecido, ficar paralisado com o medo nunca ajuda é o pensar de mais só atrapalha. No fim é viver, lidar com os percalços, adaptando e evoluindo, porque são eles que irão fazer o que somos e seremos. Boa sorte para a sua nova jornada.

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